MENSAGEM
Dizem-me que ouvistes o mar caprichoso
Que te deixaste penetrar
Pelos seus braços
Feitos brumas
Tão imensamente espessas
Ardentes
Fugidias
Que se não deixam capturar
Que se não escondem
Nem no restolho
Nem na vacuidade
Mas na paz contemplativa
De uma imagem eterna
Que acaba por abrir as narinas
E conceder a suprema lucidez
Mesmo que seja por um breve estante!
Na areia ofuscas as tuas dúvidas
Não cedes
Às hesitações
Aos fracassos
Às tiranias
Caminhas com a vontade de uma adolescente
Galgas esse fosso
Tão avaramente construído
Nos augúrios das desilusões
Que te impedem de usufruir da felicidade
E por isso
Escreves copiosamente
Tateias uma a uma
As ideias
Que te concedem a suprema inteligência
E acabas sorrindo sempre
Como uma adolescente
Às provocações
Com provocações
A fazer lembrar
Uma personagem camiliana
Uma luciférica alma
Que paira nas linhas da Agustina
Mas resplandecente
Como sempre
Acabas por deixar
Palavras desenhadas
Desse coração aberto
Que quer ser de todos
E colocas o manuscrito numa garrafa
Encerra-lha
E lança-lha ao mar
Deixando-a navegar na subtileza
De que quem a encontre
Salve,
Enfim,
A sua honra despojada
De toda a vaidade!