MISTERIOSA
Os teus olhos
Doces, quando sorris,
Agrestes, quando sulcas as linhas do rosto
Incendeias
Com esse teu olhar fulminante
Nesses teus volumosos seios de judia
Guardas toda a culpa
Manténs frenético
Esse teu gosto pela pura maldade
Que, incansável e imparável,
Dá de mamar aos filhos de Belzebu
Das tuas longas e finas pernas
Que toldam os olhares dos homens
É nesse meloso recanto que os embalas
Assumes-te incansável em abarcar
Essa tua veia de pura ilusão
De mulher gentia e apaixonada
Cinges-te no eixo circular
Plantado de negro capim
Debaixo de um embondeiro
E observas o seu proverbial tronco
Observas o sexo,
Inteiras-te da sua sofreguidão
E, pouco a pouco,
Vais comprimindo-o
Até que o submetes ao teu ditame
E ele sai frágil e pequeno dentro de ti
Desse encontro onde o moldará
Ao que os teus desejos desejam mesmo
Frágil de aparência
Espiritual no olhar
Que, de imediato, cativa
Mundana mulher
Que te abraça
Com a dureza e a pressão de um Golem
E que te quer tão submisso
Encerrada, vive no mundo que criou
Não se atém ao que a rodeia
Não se incomoda com o que lhe chega
Vive apenas circunspecta
Das suas mais íntimas vontades
De uma incomensurável estratégia
Capaz de transformar desertos
Em abastados e férteis territórios
Que obsequeiam
Sumarentas e doces frutas
Ou água salgada do mar que acaba doce
Mulher de mil desejos
Que se esconde
Como um insipiente anelídeo
Que desliza debaixo da erva
Dos duros bicos dos melros
Não se deixa atrapalhar
Não se deixa amedrontar
Pelas ameaças dos outros
Vive a sua vida
Encerrada nos objetivos estratégicos militares
Das missões da sua vida
Deambulando de um lado para o outro
Recebendo aqui, dando, pouquíssimo, acolá
Fustigada pelas patranhas
Que lhe vão contando
E que ela finge, finge, sim,
Em acreditar
Para terminar com sucesso
As incumbências que lhe vão determinando
E, como o fumo no alto da montanha,
Acaba desaparecendo do olhar
E torna-se, num ápice, invisível
Para voltar a surgir
Com toda a sua força e encanto
Numa qualquer latitude
Para salvar a pátria que está em perigo
Mas ainda hoje eu devaneio
E acabo desejando
Por aquele corpo
Que não me dava tréguas
Nas mil palavras
Que ergui em sua honra!
Shalom!
*Adelaide, personagem de um romance que findei há pouco; mais um que não sei se verá a luz da publicação, apenas puro prazer da escrita!