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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

MULHER

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Não pude mirar-te

Como eu gostaria de o fazer

Apenas me cingi a um ténue movimento

Do meu pescoço com pertinente circunspeção  

Tentando, de soslaio, penetrar nessa tua alma cansada

E é no regaço

Onde se espraiam com denodado deleite

As tuas finas mãos

Que

Paulatinamente vão humedecendo

Finas gotículas de orvalho

Lá onde medram os pequenos besouros

As solitárias salamandras

Aqueles seres invisuais que captam todos os sentidos;   

E eu

Apesar de olhos bem abertos

Levitando nas tuas sombras

Deslizando na suavidade dos teus desejos

Interrompo a marcha   

Sorvo uma a uma das tuas gotas

Que me são servidas pelos teus finos dedos

Para acabar por colher um pequeno ramo revigorado de três rosas

Tantas as que deste à luz

De cheiro adocicado

Com abelhas esvoaçantes por perto

As flores que sempre adoraste

As que louvaste na alegria da tua vida

E mesmo

Quando rodeada de ervas daninhas

Que viviam atulhadas à tua volta

Conservaste na tua intimidade os teus maiores prazeres

Mas as rosas

Que sempre adoraste

De ciclo em ciclo

Todas as primaveras

Sempre rebentam e dão-se à exaltação: viçosas e carregadas de esperança!

Por entre as madeixas que caem da tua cabeça

Como cachos de glicínias que tombam da extensa ramada

Que nos dias mais quentes

Bem refrescam

As almas dos crentes

A força das convicções dos gentios

E ali ficas

Infinitamente

A relembrar os sorrisos de criança

Os primeiros amores

Tão insipientes como passageiros

As subidas às árvores

Para avistar mais além o mundo

Até que te recolheste aos silêncios

Para fugires às tristezas que acabaram por te tolher anos e anos a fio…

Mas, acabaste por semear o teu maior desejo

E acabou por florir, florir, florir

Só para ti! 

 

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