NATAL AZUL
Céu azul rasgado, perentório e quente dos trópicos
Céu azul levemente toldado por um odor a enxofre
Céu azul das auroras boreais
Azul fantasmagórico dos que não têm Natal para celebrar
Azul escurecido dos bosques cerrados
Azul, sim, azul, dos odores adocicados das árvores
Das gotículas minúsculas de gelo
Que se soltam do arvoredo extenso esvoaçando no ar
Pinhas acentuadamente enrugadas que eriçam as mãos ao tato
Cavalos alados possantes e jubilosos
Renas discretas teimosamente silenciosas
Carregam as oferendas dos pequenotes
Na longa noite de Natal!
Verso a verso
Construo, a pulso firme e indomável, a minha vida
Nesse edifício onde reside o poema
De onde saem os sentimentos em laivos abrilhantados
Como estrelas no firmamento
Natal
Profundamente gelado
Mágico, único
Natal que vem e que vai
Um tempo, porém, em que não haverá mais Natal
A chama azulada expelida desde o solo para a atmosfera
Fogos-fátuos
Que saem para o ar quente de uma noite de verão
Que parecem fogos-de-artifício dispostos a celebrar a libertação
Dos gases acumulados ao longo da vida
Jorrando-os em definitivo para a atmosfera
Que é onde eles verdadeiramente pertencem!
Etan Cohen
Publicado no livro “coletânea sobre lugares e palavras de Natal” em 2020 pelo Lugar da Palavra Editora.