NOVA VIDA
Uma lágrima rolou pela tua face
Deixando-te pronta a mergulhar no mar
Que guarda os teus inconfessados sentimentos,
Mas colhida a lágrima
Arregaçaste as mangas
Pugnaste pela vida
A areia que acolhe essa tua explosiva sensibilidade
Que em noites de solidão
Exaspera ainda mais
Tua tão débil solidão
E se refugia nas viagens do tempo
De uma mente há muito aprisionada
A uma punição tão seca,
Impondo-te um olhar único
Aos acontecimentos da vida
Destituída dos sonhos, dos desejos, das vontades
Que acabam asseando a alma
Como a lágrima limpa e purifica os olhos
E nessas expedições, em transe,
Debaixo da escuridão brutal
Mas, ao mesmo tempo, que te protege de certos olhares
Se eriça esponjosa e salmonada
E que acaba vertendo as águas freáticas
Que se escondem no mundo subterrâneo que é só teu;
E mais uma noite
Mais um sonho cumprido,
Que seria de ti
Sem esses instantes em que dás ao teu corpo
O ritmo dos desejos que se exasperam
Por uma vida tão larga e tão insonsa?
Deixaste de ter sensibilidade à gustação dos alimentos
Que passam nessa tua língua
Profunda e tão sedutora
E acabaste, engolindo-os,
Na sofreguidão do tempo
No resguardo de uma esperança
Que nunca morreu em ti
Acalentada apenas pelos teus murmúrios:
Um dia derrubarias esse mundo
Tão pesado e que pode ser tão letal
Que não te consumiu na exaustão das águas paradas
E que te fez mais forte!
Agora, acabaste por encontrar a voz
Que há tanto desejavas
Que te deitou nesse leito
Povoado de pétalas de rosas
E fez submergir a voz do erotismo
Que estava silenciada
Escondida
Delapidada
Nesse sacrifício
Em que te impuseram viveres
Mas que tu
Ardilosa
Acabaste por te libertar das amarras
E partiste nessa embarcação frágil
Mas, agora, tua
Onde aportarás
Ao destino que é teu
E só tu o sabes até ele te levará!