O ESPECTRO QUE ME PERSEGUE
Com que ledo
Te apresentas
Esboço
De mim
De ti
Alma angustiada
Sem descanso
Para não me dar sossego?
Exultas esse teu ódio
Contra o bem
Tentando arruinar o meu prazenteiro amor;
Inefável vontade em destruir
Em arrasar a concórdia
A paz quando a guerra não se anuncia
Que como penumbra que se insinua ao longe
Batalha perdida em Alcácer Quibir
Como reino sem rei
Como vida sem maceração
Atravessas paredes e projetas a obstinação
E tudo por achares que te roubei o morgado
E pareces dizer
Por cada aparição
- Ele não soube escolher a sua consorte…
E expias todas as noites em levitação
Pelas paredes que tu próprio construístes
E que,
Com tão denodado empenho,
Lutastes até ao último suspiro para que ali governasse
Uma outra rainha
E por isso
Exiges a minha expiação por te ter destruído tão absurda ideia
Mas não cedo a tais projeções
Sim, não cedo a essas insinuações de uma alma penada,
Que não me assusta
E fixo sempre os meus olhos temerários sem titubear contra a tua penumbra
Que é como polvo sem medo
Sagaz e flibusteiro
Que busca a sua toca escura e trapaceira
Para capturar as suas presas
Mas eu não cedo a nenhuma das tuas tentações
E ergo-me sempre contra essa tua verborreia
Que já não fala
Não se expressa
Apenas se projeta à minha frente
Para me assustar
E, indestrutível, não cedo a essas tuas ameaças
Às tuas aparições ameaçadoras
Para que eu demande assombrada dali
Mas, antes, vivo resplandecente nessas masmorras que construíste
Onde tantas vezes afugentaste a tua pobre consorte
Minha saudosa e bondosa sogra;
Tua maldade viperina
Não vencerá
Não passará
A minha arte é não ceder às quimeras dos outros
É fazer o que a minha consciência e os meus sentimentos querem fazer
E tu isso não sabes consegues
Perceber
Resolver
Mudar
O que o teu filho quis
Porque alma penada é como um gaz
Que surfa apenas nas ideias!