O GOLEM
Cresceu em ti
Essa entidade estranha
Tão antiga como medieval o é
Concebida à volta de tola ilusão
Criar ciúme no meio da palha
Que, voraz e tentadora,
Logo se incendiou e devorou tão infeliz quimera
Mas esse aparente
Gigante com pés de barro
Depressa se auto mutilou
Decepou as suas finas pernas
Porque ideia levita
Não precisa de caminhar
Para entroncar de corpulência
Aparentado de rude alma
Que tem nas mãos o seu sustento
Calejada e robusta
Como se fosse uma besta
Dessas capazes derrubar uma árvore de grande porte
Com uma vigorosa cabeçada
E, garboso com a criação,
Quis
Sub-repticiamente
Aspirar ao vento que corre pelas colinas de Golã
Para ele transportar a boa nova
De um homem novo e reputado
Carregado de uma suposta felicidade
Protegido e invencível
Com uma Ideia apenas
Que tanto o enchia de orgulho
Apesar de continuar nessa vida vazia
Distante dos gritos dos de casa
Ausente dos queixumes dos animais domésticos:
Do cacarejar das galinhas
Do ronronar do porco
Do grito lancinante dos perus
E foi num negrume retiro
Que acabou por conceber
Mesmo sem o saber
Uma ideia de vingança
Que como ovo estrelado em demasia
Acabou por o chamuscar…
E apenas lhe restou
Mendigar junto do rabino
Como destruir essa tola ideia
E ele disse-lhe:
Escreves a palavra
Emet
Retiras o primeiro “e”
Da esquerda para a direita
E escreves simplesmente:
Met (morto) no hebraico
E o Golem desfaz-se como pó!