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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

O HOMEM SONHA, VAI-O CONCRETIZANDO, ATÉ QUE A OBRA NASCE

A vontade

O pensar

O fazer

O escrever

Permitiu-me uma viagem empolgante

Num daqueles balões de tons azulados

Alimentado a ar aquecido

Percorrendo as infindáveis savanas africanas

Pejadas de murmúrios

De gritos de guerra

De disparos

De rebentamentos de petardos

Mas, ouvindo em fundo,

Os sorrisos únicos e genuínos dos seus naturais

As expressões dos sentidos dos animais

Que, todavia, por ali pastam selvagens;

E nesse sonho

Em que me vejo a voar no silêncio mais simples e seco

Interrompido pelos lamentos frescos do senhor vento

Que se mostra buliçoso para me desestabilizar

Acaba agitando o meu balão…

De súbito, vem-me um novo sonho

Bem diferente do outro

No meio de um bosque

Onde um omnipresente castelo medieval

Parece vigiar todos os movimentos

Identifico a voz do meu pai

Que trago gravada dentro de mim

Desde o seu súbito desaparecimento

E, nessa sua partida tão subtil como rápida,

Como foi sempre o lema da sua vida

Parece revelar-se em mim pelo mesmo destino de vida

Mas, de repente, reflete-se de lá de cima,

De uma das torres desse castelo acinzentado

Uma luz brilhante,

Como se fosse uma lágrima resplandecente

Dessas que se usam nos aniversários por cima dos bolos

Uma tormentosa luz

Que desperta em mim sentimentos empolgantes e ambiciosos

Mas, ao mesmo tempo, me questiona

E vejo, então, a voz palavrosa do meu pai

Que me anuncia mudanças na minha vida...

Acordei do sonho

Desse sonho que não consigo deixar de lado

E muito menos olvidá-lo

E, ainda a dormitar,

Contemplo um velho relógio de areia

Em que, uma das âmbulas,

Está prestes a esvair-se a areia

E é olhando a outra âmbula

De orifício fino voltado para cima

 Que acabo por ter a epifania:

Onde a areia se foi acamando

É aí que nascerá a Obra

Que trará um novo ciclo de vida

Tão importante para mim!

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