O TENTILHÃO
Encalhado
Sob a égide
Da densidão das águas do mar
No rasto de um marasmo
De dias iguais
Sem um futuro
Acabei tendo-o por breves instantes
Quando se desprendeu do firmamento
Abandonando as estrelas
Que cintilam com olhos saudosos
Límpidos e fulminantes;
Quis
Pois
Ser o passado
Com o presente ausente
E o Futuro
Já o sabia
Não estava ao seu alcance
Quando se recusou olhá-lo de frente
Cingido ao vislumbrar das formas
Que se apresentam sob um olhar entristecido e negro
E silenciou-se
Nessa gruta escura e húmida
Em que achou por bem se encerrar
Para antecipar esse dia
De um atroz disparo
Contra o peito
Que tanto arfou
Nessa exasperação cruel
De quem já nada mais vislumbra da vida
Do que lhe pôr fim…
Um rombo enorme
Deixou escorrer o sangue vivo
Em golfadas violentas
Inundando o chão
Duro e sujo
Da garagem
E ali permaneceu esquecido
Só e imundo
À espera que recolhessem
Esse corpo retesado
Para poder descansar em paz
Naquele retângulo sitiado pelos velhos muros
Cativo dos silêncios
Debaixo do altivo carvalho
Interrompido pelas maviosas melodias
Do invisível tentilhão
Que saúda sempre
Os novos
Que
Com ou sem pressa
São tragados
Pela terra faminta
Que não se exime
Em desfazer as velhas carnes
Apodrecidas
Que regressam ao pó!