O TEU DESEJO DE NATAL
Nessa irmandade de letras
Podias escrever tu
Podia escrever eu
Podias responder tu
Podia responder eu
Assim deveria ser
Mas tu
Mãe sofrida
Consumida de saudades
Da tua prole distante
Mulher esforçada
E arrebatada pela paixão
Que se foi derretendo com um glaciar
De olhar distante
Frio
Cortante
Não consegues já sorrir com entusiasmo
Não me escreves
Não me contestas
Porque não me escreves?
Não respondes?
Não contestas?
às minha súplicas?
Não devolves os afetos que nutro por ti?
Temes-me?
Ou temes-te?
Em cada Natal
Alegras-te
Animas-te
A esperança recrudesce dentro de ti
Voltas a ser a menina
Mimada pelo pai em criança
Mas o pai
Já não é capaz de te mimar
E é então
Que te fixas
Com esses teus olhos húmidos e saudosos
Na tua árvore de Natal
Miras as bolas coloridas
Que pendem dessa árvore
Cintilantes e mágicas
E que, todavia, tanto te atraem e fascinam
Silencias-te
Acabas fascinada
Pelo que cada uma das bolas
Te consegue fazer sonhar
Como se visses
Ainda
Um sonho
Por mais estranho e bizarro
Que pudesse ser
Concretizável
E comerás
De ávida paixão
Cada figura prateada
Feita de chocolate
Que se acoberta
Nos finos troncos da árvore
Como se cada uma delas
Fosse uma ave
Que não se olvida de regressar
Onde nasceu e foi feliz!