PAIXÃO REVELADA
Só
Não ficarás
A padecer
Nesse limbo
De silêncio
De terra
Empedernida
E sepulcral
A sofrer
Interiormente
Na textura
De uma vida
Indigente
E adiada
De felicidade conjugal!
Tantas vezes
Te entregaste
Aos prazeres mais íntimos
Aguilhoada
Nas amarras
De uma solidão
Em noites infindáveis
A divagar
Angustiada
No interior de uma escura galáctica
No desespero atroz
Da tua voz sucessivamente ignorada
Que se foi silenciando
E que sucumbiu naufragada;
Ó dissabores de um leito gélido
Que foram acalentados
Por essa gloriosa nobreza
Dos felinos
Que, como pajens,
Enfrentaram a batalha
Travada
Contra a altivez
E que te ajudaram a limpar
As impurezas
Em silêncio;
Território inóspito
Tão quente
E seco
Pululado de areia
E majestosamente colossal
Onde sentiste a dor cruel
Penando arrependimento
Dessa doença
Incurável
A que parecias estar vetada!
Soletro na tua pele
A angústia
De uma paixão
Tantas e tantas vezes
Desejada
E sucessivamente adiada
Porque os anos passavam
E ela não vinha…
Mas afinal,
Acabou-se revelando
Numa noite quente
De verão!