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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

PAX

 

Respiras

Ainda 

O ar da liberdade que adoravas  

Ainda que esse respirar seja já um leve sopro

Que já não alimenta essa tua velha carcaça

E é nesses instantes de silêncio

Entrecortados pelo arfar do ar que te entra nos pulmões

Que, lentamente, te vais despedindo

De mim, de uma vida prazerosa,

E eu regozijado com o privilégio que foi ter-te estes anos todos;

Longa vida canídea a tua

E por mais que olhe para trás

Estás sempre omnipresente nas minhas memórias

E mesmo com tantas pessoas que tão mal me fizeram 

E desaparecerem, esfumaram-se

E outras que tão bem me fizeram

Incluindo, parirem-me

E partiram

Mas tu velho amigo

És e serás sempre diferente de tudo e de todos;

Embora não o tenhas feito ainda, mas pressinto a tua partida está para breve;

Desde os primeiros instantes

Ainda como cachorrinho

Perseguias-me sem cessar

Parecia que o teu mundo era o meu

Olhavas-me com total enlevo

Com uma adoração que só os cães o sabem fazer

Como não te poderia adorar

Meu lindo cachorrinho?

Mas agora que assisto ao dealbar da tua última partida

Olho-te já com a recordação de 17 anos de vida em comum

Na qual foste tudo para mim

E como gostavas de te sentar a meu lado no sofá

Com o olhar deslumbrado

À espera de um afago ou de um olhar enternecido…

E nestes últimos instantes de vida

Pareço ouvir o teu ladrar

Os teus gemidos

A força da tua determinação

Só para estares onde eu estivesse…

Mas isso são já memórias

Apenas

Porque o que eu vejo é a tua cabeça

Que se agita suavemente

Para cima e para baixo

Com um movimento pendular

A teimar em prolongar a tua vida

Para estares mais uns instantes comigo

Mas sinto-te cansado e sem retorno

Alquebrado e tonto

A serpentear na frente do meu olhar no escuro

A aguardar que o barqueiro de vestes negras

Te leve até à outra margem

Que ninguém até hoje ousou conhecer

E tu

Depois desta derradeira viagem

Aguardarás que eu transponha o rio

com o barqueiro de vestes negras a meu lado 

Para nos reencontrarmos na eternidade

E voltarmos a ser o que sempre fomos

Unidos pelo destino

Separados ocasionalmente

Ligados eternamente!

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