PEDRAS NO CAMINHO
Palmilho
Contigo
Em comunhão fraterna
Esta costa
Face da moeda
Deste Portugal acolhedor
O caminho
Que o destino quis que partilhássemos
Sulcado de areia aveludada
Transportada pelo mar
Infatigável a perder de vista
Pés descalços
Massajados a vivas unções;
O percurso
Nessa manhã
Submete-se
Aos ditames da nossa passagem
Imerso nessa neblina agridoce
Sem Dom Sebastião
E as profecias do Bandarra
Que nasceram ao trote desse cavalo negro
Que acaba urdindo o desespero
E trás a ausência da esperança
Ao passo firme e decidido
Na praia deserta…
Lindas sereias assomam-se
A zombar de si
De mim
Da praia interminável
Em comunhão com a natureza
E eis que à nossa frente
Ergue-se
Uma mancha de pedregulhos negros
Enterrados na areia
Que se intrometem
Interrompendo a nossa marcha;
Teu olhar perdido
Acaba obscurecendo a tua cansada silhueta
Talhada na areia
Irreversivelmente,
Novas
Ruins
Proclamam-se e espalham-se
Na praia deserta
Submersa por uma neblina gotejante
Nessa manhã fatídica
Que não dão tréguas
Aos clamores que chegam das profundezas do mar
Que avivam
O meu desejo de envolver esta nossa amizade
Num pano sedoso
Laçado
A envolver a esperança que vai dentro do embrulho;
E até as gaivotas
Tão agrestes
Fugidias
E selvagens
Comovem-se
E aproximam-se
Naquele palmilhar lento mas decidido
De asas erguidas
Para te confortar...
Amiga
Não se vencem
As pedras plantadas no caminho
Gizando confrontos empedernidos
Mas é contornando-as
Docilmente
E sem as afrontar
Duramente
Que se vencem os obstáculos!
A uma amiga muito especial