POR ENTRE AS PAPOILAS
Por entre os queixumes de um vento
Que se agita empolgado
Nesse Monte
Que não é serra
Não é planície
Nem sequer planalto
Avistam-se os alvores
De mais um dia que chega
Raiado a vermelho no firmamento
Ouvem-se uns ténues bramidos empáticos de uma mulher
Que vê chegada a hora
De todas as esperanças
Mesmo que a sua vida seja
Um amontoado de uma eterna solidão
Que se reflete no espelho à sua frente
Não há paixão
Ali
Não há retorno
Apenas amor maternal
Fraterno e justo
Que ajudará a dar à luz
Desta vez uma menina
Uma princesa
Que será marcada pela agitação
Dos tempos silvestres e pródigos
Da primavera
Que se não se destapa
Não foge
Não se transfigura
Não se silencia
Perante o torpor dos longos invernos
Que tolhem certas pessoas
Nascidas em signos mais invernais
E que, por isso,
Falam mais consigo próprios
Do que com o universo que os viu nascer
E nem mesmo nos dias mais felizes da sua existência
Conseguem produzir mais do que uma simples menção
Seca e destemperada
Desenxabida
Que, se bem se entenda,
Não se compreende a usura com que tratam os afetos!
Mas tu princesinha
Vieste ao mundo
Para seres igual a ti própria
Mulher que não dá por perdido
Nenhum instante
És como o arado que sulca a terra
Faça sol ou chuva
Cortas a direito
A terra
Separas o trigo do joio
Arrefeces aquele ardor que as plantas sempre exibem
E no final
Salvar-te-ás tu
Mulher abençoada
Forte como uma deusa
Meditativa como uma pitonisa
Sagaz como uma sacerdotisa celta
Tu serás
Aquilo que quererás ser
Varrerás as ilusões
Dispersarás as quimeras
Proliferarás a riqueza que trazes dentro de ti
Vieste ao mundo a 20 de abril
Para ganhares todas as batalhas da vida!