PRONTO
A chuva caí
Nesta ainda escura
E temperada
Manhã
Sonolentamente adormecida
Que vai assistindo ao lento acordar das pessoas,
Automóveis vão
Aos poucos
Deslizando pelas estradas circundantes
Os pingos da chuva
Por vezes vigorosa
Levem-me até ti
Nesse discorrer do passado
Atualizar o presente
E suspirar pelo futuro que há-de vir
Quer faça chuva ou faça sol
Antevejo
Soberbo!
Enquanto escrevo
Passo os olhos
Pela manhã tranquila
Obedeço aos meus desejos
Estou só e por isso faço o que me dá na real gana
E vagueio a suspirar:
Pelas andorinhas no seu voo circundante
Pelos tons coloridos das asas das borboletas
Pelos jardins agora sem as flores do meu encantamento
Deixo-me guiar pelo meu instinto
E acabo suplantando-me
E mesmo aos que até me possam odiar
Fazem-no
Porque conhecem apenas uma parte
Uma pequeníssima e insignificante faceta
De mim,
A outra,
Aquela que transporta a essência do meu ser
Está escondida
Oculta
E encerrada
Na gruta
Onde escassos têm acesso a ela.
Entretanto, começa a amanhecer
Já vejo as formas
Das habitações adjacentes
Àquela onde peticiono
Até às agruras do meu ser
Porém, não com a nitidez necessária
Mas envolta na neblina
Que se insinua sobre este instante matinal do dia
Como se fosse a única opção de vida
Mas tantas foram as que vivi
Com mais ou menos entusiasmo
Que já não sei qual delas foi a mais edificante
Se bem que sei
Que mesmo guilhotinado do sol
Ainda escondido e ausente deste hemisfério norte
Mas aguardo pela sua presença
Espero que ele se mostre a raiar no céu azul
Outra vez
Para confessar
Não só os meus pecados
Mas para lhe dizer
Que, decerto, vivi
Momentos muito bons
Mas auguro que melhores dias virão;
Por fim,
É dia
Lanço-me
Na companhia da voz suave do Robert Glasper
Acompanhado pelos acordes musicais
Que saem dos seus dedos
Tateando as teclas…
Estou pronto, outra vez, para a vida!