QUEM ÉS TU?
Nas tuas pernas perco-me
Olho-me e não me revejo
Sinto que há em mim um outro olhar
Embevecido e sedutor que desconhecia
De terciopelo exteriorizado
Como se quisesse afagar nessa mirada
Toda a elegância que as tuas pernas contêm
A evocar, vezes sem conta, uma certa vilania
De me trazeres embeiçado
Prisioneiro dos teus desígnios
E não me dando ensejo
A fazer-me voltar à estrada
Que me trará de regresso…
Mas eu quero mesmo regressar?
Nos teus braços sinto toda a tua paixão
Nas tuas mãos sigo essas tuas linhas bem vincadas
Que auguram destino comum
Nesses seios intumescidos
Avalio toda a excitação
Que sentes pela beleza das minhas frases
Da tua boca exalas odores frescos
Que me remetem aos primeiros beijos da adolescência
Dos teus finos lábios, que se colam aos meus,
Avalio a salinidade
Do mar de onde vieste
Sinto bem forte
Essa tua saudade
De querer viver toldada pelo sentimento
Que, desiludida, buscou a solidão
No recolhimento, no despreendimento
Mas, malgré tout, voltou a encarar o entusiasmo pelas palavras
Os opostos no amor: da lua pelo sol…
Mulher que não se submete a uma qualquer evocação
Mas que candidamente aguarda
A junção da palavra com a narrativa
Desse teu ombro, onde me apoiei tantas e tantas vezes,
Resultam inúmeras análises
Que acabo por não saber qual delas devo seguir
De cada um dos ossos que fazem parte da tua coluna vertebral
Tantas vezes percorrida pelas minhas mãos
Nesse leve tatear do pescoço até às nádegas
Em que a tua pele se arrepiava moldada ao desejo
Das breves palavras que iam saindo dentro de mim
E da foz desse rio onde correm os teus fluídos
E para onde vão todos os teus sentidos
Vais oleando o clímax de toda a minha jactância
Dás largas ao teu entusiasmo
De me quereres tão presente na narrativa
Como pode o céu fundir o sol com a lua?
Quando me vejo nas tuas águas
Quando alcanço essa tua vontade
De me diluir no teu corpo
Acabo por sentir um tropeção
Que me sustém a respiração
Afinal, a nossa força são as palavras
O conjunto que cada um de nós
Deixa fluir
Elas são a essência
Que nos mantém amantes da frase
Neste geiser permanente
Que brota vapores escaldantes para o ar que nos rodeia
Afinal, o calor das minhas palavras
Casa com o teu doce vocábulo
Empedernido numa letra que traja calibri
Invariavelmente em fundo negro
Que me atiça ainda e sempre a curiosidade
Afinal,
Quem és tu?