QUERO REGRESSAR A TOLEDO
Piso o solo empedrado
Sentir a calçada medieval
Ancorada em ruas estreitas e circundantes
De Irresistível encanto
Povoadas de façanhas
Como se estivesse a pisar solo sagrado!
Casas simples
Amparadas nas narrativas
Árabes e judaico-cristãs
Abundantes e multitudinárias
Que soam convincentes!
Toledo
Reencontro no Cerro del Bu
Com o Tajo ao lado
De cor Esverdeada
Disciplinado
Cadente
Entrincheirado entre duas colinas
A muralha que apazigua
Com interminável força
A Porta de Bisagra
A Porta do Sol
Toledo em toda a sua vista
Toledo que nos olha com soberba
Acidez e preconceito
E vou andando de rédea curta
Pelos ínvios caminhos
Desta cidade
Árabe
Cristã
Judia
Palco de uma incendiada batalha
Que terminou com a destruição
Do seu belo Alcazar;
Mas toledo
Não se compadece com o viajante
Este é que acaba por se comover
Com Toledo
A sua rica e vasta história
Cheia de traições
Ablações
Sofrimentos
Humilhações
Desforra bruta
Dos nacionalistas aos republicanos!
Nos dias mais quentes
Em Toledo
Dançam borboletas
Como musas
Como tágides
A deambular de um lado para o outro
E são elas, as mariposas,
Que nos evocam os gritos
Dos que tombaram fuzilados
Encostados às paredes de insignes monumentos
Em nome da liberdade
Mas aquela frase que li
À porta de um quartel de Toledo
Não me saí da cabeça:
- Tudo por la pátria!
Quero volver a Toledo
Admirar a sua catedral
Entrar nas minúsculas livrarias
Inspecionar as armaduras
Admirar as espadas
Redescobrir o ladino que por ali soa
Encontrar-me com o Golem
Beber um chá de menta
Comer uñas tapas
Toma uña copa
Deixar-me envolver
Pelo doce e musical
Idioma castelhano
Se possível acompanhado por uñas chicas
Bien guapas, guapíssimas
Perfumadas
Frescas
Desejadas
Que, ao final da tarde, desfilam nas múltiplas calles
Por isso
Eu quero
Eu quero
Regressar a Toledo…
Antes que seja tarde,
“tudo por Toledo”!