REGRESSO
Acabo a contemplar-te
Uma e outra vez
Chilreando na floresta encantada
Onde nunca é tarde para acontecer,
Partes
Para a derradeira viagem
Que
Todos os anos empreendes
Do sul até ao norte
Nessa arribada jubilosa
E com áurea te concede
Esse título de Princesa,
Mas é a hora do regresso
A essa costa ventosa
Que testemunhou
Barcos carregados de especiarias
Fustigados pelas águas
Pululada de escarpas
Que parece não ter fim,
Depois de um verão quente e seco
Que se arrastou
Em dias e dias consumidos
A olhar o mar
A mirar a areia repleta de gente
A passear os sonhos
A tatear-se
Desejando que o mundo se detivesse
Naqueles corpos agrestes e salgados
A caminhar na praia
A encarar
Lá longe o horizonte
E a ver o pescador
Fustigado pelo inclemente sol
De cana na mão
Paciente
À espera de capturar o maior robalo
Que vai lutando
Para não cair num simples balde
De corpo areado
A morrer lentamente
Enquanto ouve o mar tão perto
Impotente para a ele regressar!
Agora
É hora de começar mais um ciclo de vida
Vejo a tua partida
Não como um movimento definitivo
Mas um até já
Que para o ano volto mais forte…
Singela andorinha
Tu que cada ano regressas sempre
Ao mesmo ninho
Onde abriste os olhos
E concedeste vida
Ao mundo
Arfa esse peito enorme
Pois quem viaja a essa distância
Como só tu o fazes
Não tem limites na terra
E por isso
Chilreia sempre adorável andorinha
Concedendo-me ignotas saudades
Dos dias tórridos e secos
De um tempo que se escapou de mim
Como areia fina a escapulir devagar
Por entre os dedos finos das minhas mãos.