RIO
Açudes
Que aproximam
Ou separam
Margens,
Levadas
Vagares instantâneos,
Rápidos
Que desembocam na cascata
Logo ali;
E outra vez
Açudes
Levadas
Cascatas
Interminavelmente…
Desfile
Guarda de honra:
Amieiros
Freixieiros
Que empunham as escopetas
Lameiros
Irónicos
Que não se deixam dormir
Ao lado das águas do
Rio selvagem!
Trutas
Salmões
Lúcios
Achigãs
Nadam nas sombras das águas do rio
Guarda-rios
Brilhantemente coloridos
Que esvoaçam sem destino
Sob as águas do rio
Alfaiates
Que deslizam silenciosos
Nas águas dos açudes e levadas
Rio
O Velho Chico mineiro
Que acaba nordestino
Mississípi
Tantas léguas percorre para chegar à Luisiana
Rio que fundeia no Mar
Já cansado
Acaba engolido
Pelas vagas de Neptuno:
Arenques
Sardinhas
Carapaus
Cetáceos
Não conhecem o rio
Só o Mar…
Rio eterno
Infindável
Que nunca se olvida
Daquelas primeiras passeatas
Serpenteando a montanha
Rio
Que protege
Cardumes de peixes
Que inspira bandos de aves
Cantando belas melopeias
Mas rio
Que alimenta a saudade dos Homens
Rio
Quero-te rio
Sempre!
Rio da minha infância
Roçando,
Na companhia paterna,
A casa
Que tinha gravada a frase
Que não me saí da cabeça:
“Aqui passei
Os anos mais felizes
Da minha vida”
Camilo Castelo Branco
In Vilarinho da Samardã