SAUDADES QUE MATAM
Ergue-te
Neste sol proeminente
Sem sombras
Onde a sua inclemência
Aprisiona os mais débeis
Até ao dealbar
De uma nova era
Onde o chão se apresentará invariavelmente iluminado
E assim caminhando
Queimarás as tuas próprias palavras
Proferidas em dias irados
Que acabaram por se tornar numa espécie de cicuta:
O que não querias
Tornou-se realidade
Que te vai atormentando
E quando te miras ao espelho
Como não gostas da solidão que se circunscreve
Acabas por te transformar num pirómano
Um desses criminosos incendiários
Sem contemplações
Que apenas buscam vingar-se do mundo
Que
Acha
Tão mal lhe causou!
Mas o sol
Queima as tuas próprias palavras
Seduzindo os sérios e sorumbáticos
Acabando por destruir a via romana
Que liga Roma aos bárbaros
Acabas rendido
À intriga comezinha
Ao vitupério mais comum
Acordas e já não avistas o campo de flores
Que antes era coisa pouca ou nada
E agora tamanhas saudades te causa!
Até o cavalo te abandonou
Cavaleiro
Vives só na lembrança que o foste
Montado nas tuas próprias ilusões
Que nunca soubeste acondicionar
À vida que o destino te foi reservando…
A vida fácil
Tornou-se na tua própria prisão
Vives
Apenas
A descontar os dias
Que ditarão a tua libertação…