SEM TEMOR
Rosto comezinho
Que se esconde
Debaixo das larvas
Que entumecem as próprias feridas
Tapadas pela erva ralada que lhe cobre o solo
Os pensamentos
Esses sustentam barbaridades
De tamanha leviandade
Que vai focinhando
Para lavrar sempre a mesma terra
Os mesmos bichos
As mesmas igualhas
A mesma fundura onde se esconde o ignóbil lixo;
A terra, que a ela própria se vai regenerando,
Alenta-se pelo sol radioso
E das múltiplas ervas que lhe dão o conjunto
Sorri, pois, a terra
Mas também o velho cortador de cortiça
Que no silêncio das planícies alentejanas
Mostra a sua vetusta mestria
Cortando a casca
Como um hábil cirurgião
Que servirá para envelhecer os melhores néctares
Cuidadosamente concebidos na escuridão das caves
A descansar anos e anos a fio
Para dar prazer aos homens,
Contemplo as tuas mãos
Que se esfregam exauridas uma na outra
Para expressar esse pobre contentamento
Nessa tristeza mais vil
De uma vida presa a outra
E noutra e noutra!
Ó terra pesarosa
Que, um dia, me há-de levar até ti
Onde repousam
Todos aqueles que nutri afeto em vida
Libertando-me das alegrias e agruras vividas
Acabando por me envolver nesse teu sabor agreste
E aí refletirei em todas as inconfidências que não pude revelar
Nesta vida que não se compadece
Com o presente
Apenas
De pequeninas vitórias de Pirro!