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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

SENHORA DOS MEUS OLHOS

6-7.jpg

Senhora

Vós fostes

Outrora

Quem me iluminou a alma

Quem me devolveu a ilusão

Que carreguei desde a nascença   

A uns olhos banhados

Nas águas da esperança,

Por isso não vos ides

Sem que os contempleis   

Pelo menos num derradeiro instante! 

Rogo-vos

Que não me abandoneis

Assim desta forma tão pueril   

Pois

De cada vez que vos contemplava  

Clareava-me a íris  

E o verde se atrevia a ficar  

Resplandecente e magnético  

Como o entardecer raiado

De um dia quente de verão!

As palavras já não me querem

Eu também já não as quero

Para quê palavras

Se sinto de ti

Uma tão grande ausência

Como um justificativo

Para não me dizer nada

Apenas fugindo  

Simplesmente fugindo  

Com a frieza para ergueres  

A escultura da ausência 

Escapulindo-te à glória  

À doce vida que poderias ter

E que

Simplesmente

Acabaste por não querer;   

Disseste-me certa vez

Que vieste ao mundo

Para fazer o difícil

E não para urdir o fácil

Ora,

Fugindo-me

Fazes o difícil

Não o fácil

Mas haverá um dia

Em que já nem mesmo a fuga  

Te fará volver à vida

Quando os negros corvos

Num fim de tarde cinzento

E com a alegria estampada no rosto 

Sobrevoarem a tua casa

Para te dizer que já não és

Dali

Nem daqui

Gritando em coro

De vida e cruel voz

A história de um homem

De distintos olhos verdes

Que muito amou  

Mas a sombra já se diluiu

E a áurea

Que aqueles olhos verdes transportavam

São pó

São história

Carregada de misticismo 

E os vastos amores

Que não se fartava de louvar    

São já gravuras de um livro

Paginado no interior de cada uma das paixões;

Então

Senhora dos meus olhos

Porque não me olhais

Mesmo que seja

Na derradeira alvura

Condoída de esperança?

 

 

 

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