SENHORA DOS MEUS OLHOS
Senhora
Vós fostes
Outrora
Quem me iluminou a alma
Quem me devolveu a ilusão
Que carreguei desde a nascença
A uns olhos banhados
Nas águas da esperança,
Por isso não vos ides
Sem que os contempleis
Pelo menos num derradeiro instante!
Rogo-vos
Que não me abandoneis
Assim desta forma tão pueril
Pois
De cada vez que vos contemplava
Clareava-me a íris
E o verde se atrevia a ficar
Resplandecente e magnético
Como o entardecer raiado
De um dia quente de verão!
As palavras já não me querem
Eu também já não as quero
Para quê palavras
Se sinto de ti
Uma tão grande ausência
Como um justificativo
Para não me dizer nada
Apenas fugindo
Simplesmente fugindo
Com a frieza para ergueres
A escultura da ausência
Escapulindo-te à glória
À doce vida que poderias ter
E que
Simplesmente
Acabaste por não querer;
Disseste-me certa vez
Que vieste ao mundo
Para fazer o difícil
E não para urdir o fácil
Ora,
Fugindo-me
Fazes o difícil
Não o fácil
Mas haverá um dia
Em que já nem mesmo a fuga
Te fará volver à vida
Quando os negros corvos
Num fim de tarde cinzento
E com a alegria estampada no rosto
Sobrevoarem a tua casa
Para te dizer que já não és
Dali
Nem daqui
Gritando em coro
De vida e cruel voz
A história de um homem
De distintos olhos verdes
Que muito amou
Mas a sombra já se diluiu
E a áurea
Que aqueles olhos verdes transportavam
São pó
São história
Carregada de misticismo
E os vastos amores
Que não se fartava de louvar
São já gravuras de um livro
Paginado no interior de cada uma das paixões;
Então
Senhora dos meus olhos
Porque não me olhais
Mesmo que seja
Na derradeira alvura
Condoída de esperança?