SINTONIA
Levo-te ao colo
Com as tuas mãos
Entrelaçadas no meu corpo
Sinto
Esse teu peito quente e ofegante
A descansar de júbilo colado ao meu
Acabamos a noite na mesma sintonia
O mesmo batimento
As mesmas vibrações
Dos nossos corações
Vislumbro essa tua cútis
Reluzente
Ansiosa
Quer mesmo ser afagada
Pelo deslizar suave
Para cima e para baixo
Das minhas mãos
Que acabam tateando os poros
Onde
Em cada um deles
Cabem os grandes desejos
De uma vida!
Nesse teus olhos sentidos
Que cintilam de cada vez que idealizas
O caminho da tua felicidade
Guardas a dimensão e o arrebatamento
Que o mundo todo te pode dar
Mas esses teus olhos
Não estão preparados
Para olhar os meus
E os meus os teus
Olhos sensíveis
A quem a luz cintilante
Lacera a íris
Preferindo ambos as sombras
Formadas pelas grandes florestas
Que acabam por acalmar
A fragância da nossa alma
Mas onde estiveres
Onde eu estiver
Mesmo sem nos conhecermos
Olhar-nos-emos inquietos
Surpreendidos
Quase certos
De que és tu
E que eu sou eu
Mas ansiosos em indagar
És mesmo tu?
Vestimos a mesma roupagem
A das palavras
Que revelam sentimentos
Que adiam decisões
Pedem mudanças radicais
Ultrapassamos
Imprudentes desfiladeiros
Apertadas gargantas
Áridos desertos pejados de areia
Terríveis montanhas
Acabamos por mostrar o caminho
Que impusemos um ao outro
Despidos nadamos no mar da inspiração
A cada braçada
Tocamos nas letras que flutuavam
E que, reunidas,
Formavam
Palavras
Frases
Textos
E foi então que tudo começou a fazer sentido
As palavras gravadas na superfície da água
deram-nos a dimensão
E o fulgor
Únicos
Que não esmorece com a distância
Ou com a ausência
Porque,
Lendo-te
E tu lendo-me
Passamos a ser companheiros
Do galope diário
Que nos levará ao Reino da Fantasia
E é aí, nessa dimensão cósmica,
Que encontraremos
Todos aqueles que já pereceram
E, destes, todos os que amamos de verdade
Os de sangue
Os de afetos
E todos aqueles que nos deixaram o lindíssimo legado
Das suas palavras
Para a posteridade
Vigias-me
Vigio-te a ti
Concede-me esse teu pulso frágil
Dá-me a dimensão das tuas fragâncias
Deixa-me sorver os néctares da tua planta
Que se esconde no interior dessa selva imensa
Que se incendia
E brota palavras de amor
Deixa-me perder-me nesse teu cais
Onde recebes navegadores solitários
Que falam o necessário
E que escrevem compulsivamente…
Faz deste nosso espaço
O Peter Café nessa Ilha do Faial
Que acode aos solitários marinheiros
Que navegam aos ventos
Na imensidão do oceano!