SOBERANA DA ILHA
Não vês
Caminhante severo
Mas superficial
Como podemos serenar a marcha
E olhar mais o que nos rodeia
Quando vemos alguém a contemplar
E a desfrutar do silêncio
Sentado numa árvore gigantesca
Secular
A querer-nos dizer
Como se deve encarara a vida?
Rodeada de uma multidão esverdeada
Que se arrebita ao olhar de quem a sabe observar
Como os olhos desta mulher
Vigilante e serena mulher
De vestido preto
Ajustado ao corpo
Que até
Se desapossou da sua sombra
Fundindo-a
Com a das árvores gigantescas que a circundam
Que serenam na sua habitual convivência
Agitadas pelos silvos de Éolo
Perante tão plácida mulher
Que não se deixa atenuar
Pelos que os outros dizem
Mas pelo que o seu coração lhe diz…
Ao longe
Mas logo ali
Construções
Que vão crescendo no meio da floresta
Que pouco a pouco
Invadem a pacatez do bosque
Acabam por confundir e expulsar as aves
Cada vez mais longínquas
Remetidas aos pináculos mais sombrios da ilha;
Mas lá longe
A cidade,
Decerto o Funchal,
Se anuncia
Engalanado sempre todo o ano
Envaidecido
Pela sua fama internacional
Debaixo de uma neblina temporária
Que lhe tira o brilho das suas cores
E lhe faz desabar os lamentos e as saudades de um dia solarengo,
Mas o vestido negro
Contrasta na mulher
Com o seu tom de pele alvadio
E que exala uma mocidade
Que parece querer fugir
Aos anos que a vida lhe dá
E por isso
A serenidade
A paciência
E a extrema bondade que exala
Cada um dos seus poros
Faz dela a soberana da ilha!
Grato à L. por me ter judado a escrever este post.