SONOLÊNCIA
Enseada aparelhada
Para onde me dirijo sempre que apresto viagem
À espera que o vento do sul
Me indique e favoreça o caminho
Para navegar nas águas do mar ondulado
Que me levará guiado pelo sol
Nos dias iluminados
Ansioso por chegar
Debaixo da noite escura
Ensandecido pela omnipresente lua
Que nunca se esquece de me acoitar nos seus longos braços
Que me adormecerão
Na vã esperança do fim do tédio
A interceder através do brilho intenso dos sóis
Pendurados no céu opaco
Onde gravitam os planetas
Que anunciam a esperança!
Em cada partida
Largo o meu aborrecimento
E carrego com a luz da esperança
Que nunca se deixará seduzir
Pelo excesso de vontade
Que muda a perspetiva
Mas não mudará nunca
O prisma mais lunar que há em mim
Que é como um oceano
Que
Ora se acerca
Ora se afasta
Do litoral
E que contempla a verdade
Como um açude onde vivem os salmões
Que fareja a mentira
Mesmo que escondida no manto nebuloso do rio
Que abriga a escorregadia enguia
Mesmo que essa verdade surja sob a forma de uma narrativa
Que se extinguirá
Como pó
Que absorve toda a vida…
Vejo
Cada vez mais
Esse teu rosto
Aglutinado
Carcomido
Pela mentira
Que te mordeu
Como uma serpente
E
Sem soro antiofídico
Um dia desejarás tê-la por perto
Mas ela escapuliu-se
Há muito
Das tuas vacilantes mãos!
Adormece, pois,
Nesse granulado
Que já só serve para te iludir…