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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

A TUA VOZ

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A tua voz

Não me é estranha

Como se alguma vez o pudesse ser?

Ouço-te desde o dia em que abri os olhos

Respirei profundamente

E vi a tua silhueta

Que empubescia no interior da minha memória

Cravada na garupa do cavalo

Montado pela bela amazona de cabelos longos tisnados; 

Essa tua voz

Que é a minha também

Leva no regaço os nossos desejos mais ternos:

Um fogo incessante que se ateia glorioso

Água que jorra

No prazer irrepetível de um grito

E lá bem dentro do que mais fundo nos une

Guardamos as sombras interiores

Que, por vezes, tantos nos inquietam

Para que o mundo caminhe depressa;

Um rio que se destapa

E na encruzilhada de uma ilhota

Acaba separando-se em dois longos braços

Afanoso e rebelde  

Que, atrevido, deixa fluir

A força das suas águas

Onde cada pequeno leito

Brilha na jactante correnteza  

Seguindo a sua marcha

E é quando mais à frente

As águas do mesmo rio se voltam a encontrar e a abraçar

Águas que correm desde o berço

E eu volto a escutar as nossas vozes…

As nossas vozes são romarias

Que bailam no calor de uma noite de verão

As nossas vozes

São a harmonia silenciosa das nuvens 

As nossas vozes

As nossas vozes

São o vigor que alimenta o nosso ser

E não se destapam pela sua singularidade

Antes, envolvem os nossos ossos

Recobertos de pequenas falhas

Que vituperam a nossa carne 

Na malsã corredura de uns tantos

Que se escapulem sempre

Para uma inenarrável estreiteza de vistas

Para enganar as suas vidas

De mais um pachorrento dia!

 

AGORA

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Que o tempo mortiço se avizinha

Mas que, todavia, não se anuncia,

Que irromperá cinzento e bafiento

Carregado de chuvas e ventos

Que acabarão limpando a alma

Anunciando a despedida do verão…

Olho, então, para trás

Para alcançar o incandescente mês de agosto

Pai desse outono que vai chegar

Filho do verão que passou

Transpondo

Sem retorno

E sem saudade!

As folhas, ainda esverdeadas, das colossais árvores

Acabarão caindo ao solo

Jazendo flácidas e enrugadas

Erguendo o leito onde se deitará a esperança;

As águas que jorrarão do céu

Varrerão os excessos

Pejados de sentimentos.

Mas as folhas mover-se-ão ao de leve no chão

Numa dança ondulante

Que acabará por encantar até as mais singelas ervas

Abrigadas pelos troncos dos plátanos gigantes

Que infundem respeito e dão glória.

Nesse campo da feira inolvidável!

Planta solitária

Que traja de amarelo  

Que exibe sorriso rasgado

Que se mostra bucólica

Infatigável

Irrequieta

E lasciva

Margarida…

De súbito,

Lança-me uma frase

Acorda-me

Da letargia final de um verão tão atípico

Acabo por compreendê-la

E digo de mim para mim

Aquilo que ela me confidenciou:

- Gostei da terra arável que há em si!

Outono de 2019.

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