AGORA
Que o tempo mortiço se avizinha
Mas que, todavia, não se anuncia,
Que irromperá cinzento e bafiento
Carregado de chuvas e ventos
Que acabarão limpando a alma
Anunciando a despedida do verão…
Olho, então, para trás
Para alcançar o incandescente mês de agosto
Pai desse outono que vai chegar
Filho do verão que passou
Transpondo
Sem retorno
E sem saudade!
As folhas, ainda esverdeadas, das colossais árvores
Acabarão caindo ao solo
Jazendo flácidas e enrugadas
Erguendo o leito onde se deitará a esperança;
As águas que jorrarão do céu
Varrerão os excessos
Pejados de sentimentos.
Mas as folhas mover-se-ão ao de leve no chão
Numa dança ondulante
Que acabará por encantar até as mais singelas ervas
Abrigadas pelos troncos dos plátanos gigantes
Que infundem respeito e dão glória.
Nesse campo da feira inolvidável!
Planta solitária
Que traja de amarelo
Que exibe sorriso rasgado
Que se mostra bucólica
Infatigável
Irrequieta
E lasciva
Margarida…
De súbito,
Lança-me uma frase
Acorda-me
Da letargia final de um verão tão atípico
Acabo por compreendê-la
E digo de mim para mim
Aquilo que ela me confidenciou:
- Gostei da terra arável que há em si!
Outono de 2019.