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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

CACHOPOS D`OIRO

 

Wheat_field.jpg

 

A Este

Inglória sedução

A Oeste

Paixão crescente

A Norte

Resistência contra a incúria

A Sul

Solfejo 

A amplitude da planície;

Cereais

Selvagens  

Balanceiam ao compasso

De um vento leve e tímido

Que

Por breves momentos

A espaços 

Sibila na planície

Roçando

Ao de leve

Umas nas outras

Espiga

Folha bandeira

Entrenós

Pedúnculo

É o entusiasmo

A cor

A excitação,  

Grilos que sussurram

No meio da cearas

Zurzindo as asas

Ininterruptamente

Deixando escapar o que lhe vai na alma,

Rãs que se enchem de peitos de aço

Gloriosas e jactantes

Imóveis e sedutoras

Nas charcas

Construídas nos interstícios de bátegas de água

De chuvas que parecem monção  

A assinalar a chegada da primavera,

Cegonhas tranquilas

Que nos comovem

Debaixo de um céu azul

A planar

A salpicar o longo bico,

Ceifeira

Que ceifa sem parar

O trigo

Entoa a bela canção

Sincopada

Que fala de um pobre ganhão

Que morreu de paixão

Recolhe o pão com toucinho

Da sesta de vime que lhe ofereceu o Zé Cigano 

E ávida

Mete-o à boca

Plena de sabores,

Hoje e sempre  

Jamais encontrará a ventura

Essa

Deceparam-na à nascença

Sem quereres

Sem soluções

Sem futuro

Ceifar

Gerar

Amamentar

Procriar sucessivamente

Até que as suas entranhas

Sequem

De exaustão  

E não possam gerar mais

Senão

Desejos entoados numa voz

Um declinar de cabeça

Um lamento que saí sob a forma de lágrimas

Quando discorre:

- Os meus cachopos são de d`oiro! 

 

VIAJANDO NO BAIXO ALENTEJO

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Ferreira

Celeiro alentejano

Calor tórrido da planície

Erguem-se e ilumina-me o meu olhar

As árvores aprumadas que dão sombra e odor

Às lápides do cemitério

Onde chilreiam os pássaros

Onde se ouve o som do bom vento alentejano!

Beja

Castelo miradouro

Onde se alcança

Nos dias cristalinos

A alma dos alentejanos

Ruas que seguem os passos das vozes aceleradas que por ali se cruzam

No emaranhado edificado que dá caráter à cidade 

E a correr e de braços abertos

Avisto a Soror Mariana;

De repente,

Deslizo

Viajo até à saída de Beja

E saltitando vou embebecido

Caminhando até à Cuba…

Encho o meu peito de ar

Perscruto uma e outra vez

Desperto a minha alma

Até que se aproxima um coro de homens

Qual legião romana

Embraçados uns nos outros

A fazer soar os místicos acordes

Do belíssimo cante alentejano

Então,

Como uma fada a esvoaçar,   

Passa por cima como que a levitar

 A Mitó

E saúdo-a:

Auf Wiedersehen Prinzessin!

De Cuba ao Alvito

É um abalo de pensamento

E nos dias de feira

Nesse dia de finados

Sai-se com a alma rejuvenescida

De tanto comprar

De tanto comover

Com a graça e simplicidade das boas gentes; 

Por fim,

À Vidiguera…

Perdida na planície

Ao entardecer

Oliveiras que se agitam a saudar os viajantes

Um copo de vinho

Que se resplandece nos dedos das mãos

Que adocica as gargantas para cantar

Menina estás à janela…

Acabo celebrando a calma alentejana

Que só existe

E que só ali sobrevive

E o vento

Aquele vento

Na planície não me saí da memória!

 

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”

José Saramago 

 

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