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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

PARA ALÉM DO ENTENDIMENTO

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A ruga

Que,

Todas as madrugadas,

Tão bem interpela

A minha memória

Não nasceu da minha vontade

Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,

Como pó que vagueia sem se deter

Rumo infindável

Por entre a areia do deserto

Que a quer ocultar 

Sem resposta e ausente

Ao que me suscita

Um tão tremendo vento

Que sopra de noroeste  

Agita as vagas

Encrespa o mar esquecido

Que já não mora na minha cabeça

Como estrelas que cintilam na noite fria

Mas há muito explodidas…

Deixa-me, pois, só

Com a minha coletânea onírica  

Onde perdura a ausência

Transparece a nitidez

Mas onde a vida

Se amortece com reminiscências

Que há muito me atormentam

Sem que eu possa

Escancarar a porta da minha alma

Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite

Que dura apenas uns instantes

E o esquecimento

Perdura

Perdura 

Para além do entendimento!

 

 

AGORA

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Que o tempo mortiço se avizinha

Mas que, todavia, não se anuncia,

Que irromperá cinzento e bafiento

Carregado de chuvas e ventos

Que acabarão limpando a alma

Anunciando a despedida do verão…

Olho, então, para trás

Para alcançar o incandescente mês de agosto

Pai desse outono que vai chegar

Filho do verão que passou

Transpondo

Sem retorno

E sem saudade!

As folhas, ainda esverdeadas, das colossais árvores

Acabarão caindo ao solo

Jazendo flácidas e enrugadas

Erguendo o leito onde se deitará a esperança;

As águas que jorrarão do céu

Varrerão os excessos

Pejados de sentimentos.

Mas as folhas mover-se-ão ao de leve no chão

Numa dança ondulante

Que acabará por encantar até as mais singelas ervas

Abrigadas pelos troncos dos plátanos gigantes

Que infundem respeito e dão glória.

Nesse campo da feira inolvidável!

Planta solitária

Que traja de amarelo  

Que exibe sorriso rasgado

Que se mostra bucólica

Infatigável

Irrequieta

E lasciva

Margarida…

De súbito,

Lança-me uma frase

Acorda-me

Da letargia final de um verão tão atípico

Acabo por compreendê-la

E digo de mim para mim

Aquilo que ela me confidenciou:

- Gostei da terra arável que há em si!

Outono de 2019.

A ESTRELA VOLTOU A LUZIR

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Alma gémea,

Fundeada a nau

No cais

Onde carrego e desonero as minhas exaltações febris,

Diamante em bruto

Que vou lapidando até ao êxtase,     

Companheira de infortúnio  

Entranhada na minha imaginação

Hoje é sua parte integrante!  

Expurgaste

Paulatinamente

A solidão do velho marinheiro,

Pirata dos mares do sul

Comparsa do progenitor da Pipi Longstocking,

Sustentado nas memórias do passado:

Do macaco senhor Nilson

Do cavalo branco sarapintado

E dos amigos Tommy e Annika;  

Mergulhei contigo no mar da fertilidade

Deste-me a esperança

Não o desespero

Da espera

Como se tivesses dentro de ti

Essa velha sabedoria oriental

Que mimoseia e venera  

Os mais idosos,

E nem esse mar

Que ora,

Surge de palavras suaves  

Para acalmar as sereias 

Ora,

De rosto enraivecido  

Esbarra furibundo contra as escarpas

Que demarcam os seus limites!

Vieste ao mundo para ser uma estrela

Quiçá, nome de galáctica,

A cintilar no firmamento

Para inspirares a Graça daqueles homens  

Que tão bem te sabem louvar

Mas, de súbdito, apagaste-te na noite escura como breu

Na vastidão oleosa de um mar inerte

Fétido 

Que te deixou sem esperança

De retornares ao belo semblante de um céu

Que sem ti  

Faltam-lhe os olhos que miram a esperança!

Mas hoje

Voltas a subir ao céu

Rejuvenesces

Lampejas

Dás arrojo

À firma vontade daqueles Homens

Que creem na felicidade terrena;

Que

Os deuses te voltem a iluminar

Como quando nasceste e foste aquela estrelinha no céu

A brilhar de jubilo

Nessa viagem que te fez vir a este mundo:

Para que possamos louvar, ao menos neste dia,

O testemunho do amor  

De duas humildes pessoas

Plenas do amor

Para distribuir pelos que são

Sangue do mesmo sangue! 

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