ESPERANÇA
Escorro da tua face
Esboroada pelas marcas do tempo
Onde deambulaste como um tuaregue
Nesse imenso deserto
Murchando
No desespero da última gota
Amofinando
No tédio de uma vida
Sem honra,
Não tiveste o merecimento
Da alma de borboleta
Que há em ti desde o nascimento
E que de si
Tudo sempre deu
Aos outros
Suor gélido de uma vida sem grandeza
Transpôs os poros
Cedendo aos limites da epiderme
E acabou esfumando-se em coisas fúteis e comezinhas!
Louva-te
Caminha ligeira
E dá-me
Esse teu sorriso jovial e fresco
Retemperador
Que tantas vezes foi reprimido
E que acabou se apagando
Tristemente
Para passar a ser
Só teu interiormente
Porque o simples rir
Tinha que transpor o crivo
Da razoabilidade
Do bom senso
Do circunstancialismo;
Refugiaste-te tantas e tantas vezes
Na imensidão do céu estrelado
No silêncio soturno das noites
Passadas em claro
Nesse mar de areia infindável
Onde os fortes impõem a sua lei
Aos mais fracos
Aos Entorpecidos
Aos que desistiram de lutar
Pela dignidade de uma vida melhor
Ou que pura e simplesmente
Desistiram de galgar
As dunas que sempre os aprisionaram;
Alma ardida
Dissecando ao detalhe
A ausência de uma coragem
Que tardou em vir
E que foi adiando o calabouço
Montado no inóspito deserto
Onde impera o hábil lacrau
Que irrompe
Paladino e corajoso
Pela areia
Em busca de presa frágil e fresca
Carregado de veneno
Que o há-de matar!
Mas chegou a hora
Levanta-se
Só dá
Quem tem o mérito de uma nobre alma
E essa
Esteve sempre ausente da tua vida,
Se não lutares
Por almejar um desejo
Um sonho
Uma quimera,
Ainda que seja da grandeza do céu
Da vastidão infindável de uma galáctica
Ou simplesmente de um simples jardim só teu
Para te dar as flores
Que,
Todavia,
Alimentam a tua esperança,
Não abandonarás o deserto
Para onde acabaste sendo levada
Que te foi consumindo
E que acabou tragando-te!