LIBÉLULA
Sorrio
Num dia de luz resplandecente
Deambulo
Voo
Como uma libélula:
Abrandando
Acelerando,
Quase tocando
No infindo arvoredo
Que se ergue à sua frente
Que parece a velha muralha fortificada
Em busca de uma áurea
De felicidade
De prosperidade
De coragem
E eu
Ali no meio
Não me deixei tolher
Nem acovardar
Pelos ditames…
Rodeei o que de mau
Se me deparava
No cimo da estrada
Entretive-me a observar o declive do terreno
Entrecortado
Pela imagem da feliz libélula
Que me saudou uma e outra vez
E quando esvoaçou
E ficou mais íntima
Tive a sensação de estar a ver um daqueles aparelhos
Que já fazem parte da história da aviação:
Umas asas gigantes
Um corpo
Longo
E delgado
Que parece frágil
Mas faz das fraquezas forças
Voando
Esvoaçando
Projetando-se no ar com aquele enorme olho
Que lhe dá o nome de tira-olhos!
Mas hoje
Esta libélula
Não sei porquê
Deixou-me em choque
Trouxe-me
Deslizando como um delgado fio de areia
A solidão desesperada;
Deambulei
E deparei-me
Gravado nas várias lápides
Com as últimas palavras
Dos que se finaram neste mundo
E foi então que me apercebi
Que a libélula
Se recusou a entrar
No cemitério
Tórrido
De pedra
Sem sombras nem descanso;
E quando calcorreava o terreno enfileirado
Por sepulturas
Chamando
Repetidamente
Pelo teu nome
Mesmo sibilando
Nessa tua letra inicial
Não me respondente
E foi então que me apercebi
Que Já não estás ali
Nem aqui
Já não estás em parte nenhuma
E já nem a libélula
Te quer próxima
Ela que tem o dom da felicidade!
Vives
Agora
No pó que se ergue
Soprado pelos ventos
Aborrecido
Entediado
Entrementes
Deslocando-te
De árvore em árvore
De folha em folha
Fixando-te unicamente no verde
Que se escancara à tua frente
Que incendeia esse teu olhar,
E não quer
A libélula
Viver assim
Voando simplesmente
Mas sim refugiar-se
Numa tranquila sombra dos dias mais quentes
Para amenizar a paixão
Que te serpenteia
Como a libélula!