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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

PARA ALÉM DO ENTENDIMENTO

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A ruga

Que,

Todas as madrugadas,

Tão bem interpela

A minha memória

Não nasceu da minha vontade

Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,

Como pó que vagueia sem se deter

Rumo infindável

Por entre a areia do deserto

Que a quer ocultar 

Sem resposta e ausente

Ao que me suscita

Um tão tremendo vento

Que sopra de noroeste  

Agita as vagas

Encrespa o mar esquecido

Que já não mora na minha cabeça

Como estrelas que cintilam na noite fria

Mas há muito explodidas…

Deixa-me, pois, só

Com a minha coletânea onírica  

Onde perdura a ausência

Transparece a nitidez

Mas onde a vida

Se amortece com reminiscências

Que há muito me atormentam

Sem que eu possa

Escancarar a porta da minha alma

Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite

Que dura apenas uns instantes

E o esquecimento

Perdura

Perdura 

Para além do entendimento!

 

 

ESPERANÇA

 

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Escorro da tua face

Esboroada pelas marcas do tempo

Onde deambulaste como um tuaregue

Nesse imenso deserto

Murchando

No desespero da última gota

Amofinando

No tédio de uma vida

Sem honra,

Não tiveste o merecimento

Da alma de borboleta

Que há em ti desde o nascimento

E que de si

Tudo sempre deu

Aos outros 

Suor gélido de uma vida sem grandeza

Transpôs os poros

Cedendo aos limites da epiderme  

E acabou esfumando-se em coisas fúteis e comezinhas!

Louva-te

Caminha ligeira

E dá-me 

Esse teu sorriso jovial e fresco

Retemperador

Que tantas vezes foi reprimido

E que acabou se apagando

Tristemente

Para passar a ser

Só teu interiormente

Porque o simples rir

Tinha que transpor o crivo

Da razoabilidade

Do bom senso

Do circunstancialismo;

Refugiaste-te tantas e tantas vezes

Na imensidão do céu estrelado

No silêncio soturno das noites

Passadas em claro

Nesse mar de areia infindável

Onde os fortes impõem a sua lei

Aos mais fracos

Aos Entorpecidos

Aos que desistiram de lutar

Pela dignidade de uma vida melhor

Ou que pura e simplesmente

Desistiram de galgar

As dunas que sempre os aprisionaram;

Alma ardida  

Dissecando ao detalhe

A ausência de uma coragem

Que tardou em vir

E que foi adiando o calabouço

Montado no inóspito deserto

Onde impera o hábil lacrau

Que irrompe

Paladino e corajoso

Pela areia

Em busca de presa frágil e fresca

Carregado de veneno  

Que o há-de matar!

Mas chegou a hora  

Levanta-se  

Só dá

Quem tem o mérito de uma nobre alma

E essa

Esteve sempre ausente da tua vida,

Se não lutares

Por almejar um desejo

Um sonho

Uma quimera,

Ainda que seja da grandeza do céu

Da vastidão infindável de uma galáctica

Ou simplesmente de um simples jardim só teu

Para te dar as flores

Que,

Todavia,

Alimentam a tua esperança,

Não abandonarás o deserto

Para onde acabaste sendo levada

Que te foi consumindo

E que acabou tragando-te!

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