ROSAS NO REGAÇO
Amai-me
Senhor
Amai-me…
Como às sílabas
Que se querem livres
Devotas a nobres sentimentos
Que
De vós
Tão eloquentes
Cultivais
Atravessando o reino
A cavalgar na garupa
Desse vento madrugador
Que chega
Às donzelas
E que tão inebriadas ficam
Que soletram sem igual
Frases
Belas
Sonoras
E inspiradoras
Doadas pelo soberano
De Portugal e do Algarve.
De tanto
De tanto
Me quereis bem
Meu senhor
Não me olvido
Do timbre da vossa voz
Quando recitais
Para mim
Palavras que parecem vir do Céu
E como viçosas tornam as plantas do jardim
Que há em mim
Dessa paixão inigualável
Que tendes por donzelas formosas
E que tão bem me aceitais
Intransigente com a pobreza
Incomodada com a fome
Que grassa no Reino;
Porém,
Vós Senhor
Meu Senhor
Sóis homem de Vistas Largas
E não há em Portugal igual!
Ó Senhor
Ó meu Senhor
Que me trazeis bendita
Numa imensa alegria
Quando
Ao acordar pela manhã
Discirno
Vosso odor impregnado
Que a meu lado se acoita
E que
Ao contemplar-vos
Tanto me inebria
A vossa tez
Trigueira e poderosa
Madura e sapiente
O vosso rosto longo
Cingido por olhos negros
Cruéis
Inesquecíveis
Enleado por espessa barba
Tão viril…
Só vós
Senhor
Me entendeis
Nesta mescla de sangues
Que eu sou:
Aragonesa e siciliana,
Deixai-me exibir para vós
As rosas escondidas que trago no meu vestido
E onde o meu coração sangra
Porque
De vê-las…
De vê-las…
Iluminadas pelos archotes
Suspensos
Das mãos
Das minhas leais aias
Me ajudaram a suster
O pranto
E que
Em vez de lágrimas
Correram pela minha face
Óleos
Com fragâncias de rosas
Que jurei
Em janeiro
Tê-las no meu regaço!