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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

QUANDO É QUE NOS VOLTAMOS A ENCONTRAR?

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Ao caminhar na planície da vida 

Deitando meigos olhares

Sob fina erva que se agita aos humores do cansaço  

Agitando-me no embalo da voz doce do vento

Vi uma especial e reluzente margarida…

Os meus olhos aglutinaram-se

A irradiar luz

Como o de uma estrela presa ao firmamento

O meu coração incendiou-se  

A minha respiração ofegante tropeçou   

E então decretei:

- Um suspiro do tamanho do mundo!

Tê-la

Ao meu lado,

Mesmo que fugazmente,

Mas até nisso o amor é subversivo  

Circunflexo

Amplo

E virginal

A essa bela margarida

Que viçosa se ergue na natureza,   

Naquela primeira vez

Tão tórrida como intensa    

Em que o suor não me dava tréguas

Gotejando sobre o seu corpo de menina,

Salgado

E viçoso,

Que se auto impôs

Adormecer  

Na banalização dos dias

Como doente terminal

Com a esperança esvaída

A observar inerte  

A areia escorrendo em catadupa  

Pelos dedos da mão,

Foi dádiva divina

A que não poderia ficar indiferente

Num choque de dimensões cósmicas

Em que o Amor é pródigo!

A sua carne

Tenra, harmoniosa e envolvente

Não me deu descanso

As suas mãos

Pareciam ramos de folhas

Frescas, odoríficas e lenitivas

A envolver-me

Sem me dar descanso,

Os seus lábios

Pousando uma e outra vez nos meus

A filar todos os contornos

Redesenhando as formas 

Para serem como os seus

Os seios

Não me deram descanso

Fixando em mim

Um saudoso desejo de os sorver

Os nossos corpos

Compenetradíssimos

Como se o mundo se suspendesse 

Naquele instante

Do que eu e ela fizéssemos

Para não dar azo a instantes mortos

Toldando-nos a razão

Amenizando aquela sensação de vazio

Em que ambos nos encontrávamos…  

E complementei-me nela

Cessando a solidão

Cuidando da terra onde vivifica

A minha bela margarida

Com todas as suas pétalas eretas

Onde me senti tão aconchegado!   

Quero regar as suas raízes

Ressequidas

Para que jamais sintam

Esses dias sórdidos

Que foram queimando a sua esperança

À espera

De uma pitada de afeto

Pois a ausência matou-lhe a esperança

E acabou encerrada numa concha

Decretando o fim do sonho…

Por fim

Voltaste

Minha formosa margarida

A sonhar  

A entregar-te

Apaixonada

Aos ditames românticos de um homem

Que te quer

Como a sua própria vida!

Enquanto te aguardava

Passei humedecido

Os olhos

Por uma verdejante seara de milho

Que ali perto parecia saudar-me  

Ao de leve

Naquele ondular afirmativo de um vento quente

Com que os deuses abrilhantam as nossas emoções  

E naquele passo harmonioso

Parecia querer assinalar-me

Como empolgante e inesquecível

Seria esse dia  

Como monção

Que se agigante e alcança a planície

Dando-lhe a vida tão desejada.

Abri as extremidades

Da empedernida casca da ostra

E, nesse instante,

Explanei-lhe ao ouvido o meu assombro

E acabei sorvendo a sua madrepérola

Que me deixou os lábios a arder!

E naquela serra

Onde parecias gazela a correr na pradaria  

Transbordante de regozijo

Em busca da fonte mais fresca e pura

Para retemperar o cansaço

Começaste ténue a roçar-te

Nas minhas coxas

Embalando a minha cintura     

Acariciando as minhas nádegas

Beijando-me profunda e ininterruptamente

Até que

Por fim

E já perto da despedida

Me demandastes:

-Querido…é já ali…já ali…que nos voltamos a encontrar?

 

 

 

 

 

 

 

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