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A ruga
Que,
Todas as madrugadas,
Tão bem interpela
A minha memória
Não nasceu da minha vontade
Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,
Como pó que vagueia sem se deter
Rumo infindável
Por entre a areia do deserto
Que a quer ocultar
Sem resposta e ausente
Ao que me suscita
Um tão tremendo vento
Que sopra de noroeste
Agita as vagas
Encrespa o mar esquecido
Que já não mora na minha cabeça
Como estrelas que cintilam na noite fria
Mas há muito explodidas…
Deixa-me, pois, só
Com a minha coletânea onírica
Onde perdura a ausência
Transparece a nitidez
Mas onde a vida
Se amortece com reminiscências
Que há muito me atormentam
Sem que eu possa
Escancarar a porta da minha alma
Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite
Que dura apenas uns instantes
E o esquecimento
Perdura
Perdura
Para além do entendimento!
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Alma gémea,
Fundeada a nau
No cais
Onde carrego e desonero as minhas exaltações febris,
Diamante em bruto
Que vou lapidando até ao êxtase,
Companheira de infortúnio
Entranhada na minha imaginação
Hoje é sua parte integrante!
Expurgaste
Paulatinamente
A solidão do velho marinheiro,
Pirata dos mares do sul
Comparsa do progenitor da Pipi Longstocking,
Sustentado nas memórias do passado:
Do macaco senhor Nilson
Do cavalo branco sarapintado
E dos amigos Tommy e Annika;
Mergulhei contigo no mar da fertilidade
Deste-me a esperança
Não o desespero
Da espera
Como se tivesses dentro de ti
Essa velha sabedoria oriental
Que mimoseia e venera
Os mais idosos,
E nem esse mar
Que ora,
Surge de palavras suaves
Para acalmar as sereias
Ora,
De rosto enraivecido
Esbarra furibundo contra as escarpas
Que demarcam os seus limites!
Vieste ao mundo para ser uma estrela
Quiçá, nome de galáctica,
A cintilar no firmamento
Para inspirares a Graça daqueles homens
Que tão bem te sabem louvar
Mas, de súbdito, apagaste-te na noite escura como breu
Na vastidão oleosa de um mar inerte
Fétido
Que te deixou sem esperança
De retornares ao belo semblante de um céu
Que sem ti
Faltam-lhe os olhos que miram a esperança!
Mas hoje
Voltas a subir ao céu
Rejuvenesces
Lampejas
Dás arrojo
À firma vontade daqueles Homens
Que creem na felicidade terrena;
Que
Os deuses te voltem a iluminar
Como quando nasceste e foste aquela estrelinha no céu
A brilhar de jubilo
Nessa viagem que te fez vir a este mundo:
Para que possamos louvar, ao menos neste dia,
O testemunho do amor
De duas humildes pessoas
Plenas do amor
Para distribuir pelos que são
Sangue do mesmo sangue!
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Neblina
Que goteja na manhã madrugadora
A agulheta escorre
Grão a grão
A fina areia
Em busca do discernimento,
Não vejo as searas
Salpicadas de papoilas
Que crescem selvagens
E que nunca se submetem à vontade da razão,
A música
Envolve
E envolve-me
Penetrando até ao âmago da minha alma
Acabo a escutar o silêncio na manhã baça
De súbito,
Um pintassilgo
Passa por mim em voo oscilante
A cantarolar
Esbarro numa aranha
A tricotar o ardil
Do que a há-de alimentar
A meus pés
Passa uma formiga laboriosa
Incansável
Transportando às suas costas
O peso das ameaças
Que a esperam
O mar prateado
Tímido
Aos solavancos
Liberta a espuma da desilusão
De quando
Em quando
Solta um bramido
Para espantar o tédio,
O invisível farol
Nos dias de neblina
Avisa as embarcações
Da sua presença
De repente,
A surpresa entontece a esquálida areia
Esquecida nos primeiros dias de setembro
Nua e a descansar do fatigado verão
O mar encrespa-se
Vomita os excessos
Atenua as diferenças
E,
Uma vigorosa ondulação se enleia
Sob a minha recordação
De todos os homens e mulheres
Que se cruzaram comigo
Uns que me quererão sempre o bem
Outros
Assim, assim
E outros ainda
Que não me perdoam
Nem nunca me perdoarão
A minha ousadia,
E é então
Que naquele derradeiro instante
Pulula sobre a minha cabeça
A recordação de todos os homens
Dos mais aos menos valentes
Que pereceram no meio das vagas das suas vidas
Que me fizeram sentir frágil
Mas esperançoso
Pois encontrarei um lugar
No meio deles
Na frieza tumular
Debaixo de uma árvore aprumada
Rodeado de palavras escritas sob pedra
Onde escreverei aquela frase
Que pedirei emprestada
Ao poeta narrador William Butler Yeats:
“Lança um olhar gélido à vida, à morte; cavaleiro, segue em frente!"