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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

PARA ALÉM DO ENTENDIMENTO

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A ruga

Que,

Todas as madrugadas,

Tão bem interpela

A minha memória

Não nasceu da minha vontade

Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,

Como pó que vagueia sem se deter

Rumo infindável

Por entre a areia do deserto

Que a quer ocultar 

Sem resposta e ausente

Ao que me suscita

Um tão tremendo vento

Que sopra de noroeste  

Agita as vagas

Encrespa o mar esquecido

Que já não mora na minha cabeça

Como estrelas que cintilam na noite fria

Mas há muito explodidas…

Deixa-me, pois, só

Com a minha coletânea onírica  

Onde perdura a ausência

Transparece a nitidez

Mas onde a vida

Se amortece com reminiscências

Que há muito me atormentam

Sem que eu possa

Escancarar a porta da minha alma

Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite

Que dura apenas uns instantes

E o esquecimento

Perdura

Perdura 

Para além do entendimento!

 

 

ESTRANHEZA

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Certa noite acordei

No vácuo do silêncio

De mais uma noite angustiada

Rodeado de áspera solidão,

Que se assumia gélida e agressiva,

E vislumbrei  

Refletido no espelho 

Um rosto que me horrorizou! 

Certo dia adormeci

Cansado de tanta em noite em branco

E vislumbrei os horrores

Que, desde aquela noite, me acompanhavam

E gizavam nas noites longas e frias

Os temores de um futuro alquebrado

A definhar

Com a mão pousada nessa viola sem cordas

Apodrecida

E mirei o meu olhar clareado

Carregado de esperança

A brilhar na alvura do meu encantamento,

Porém, surgiram as carpideiras

Que apressadamente

Começaram a esconjurar aquele rosto,

Apesar de nunca o terem vislumbrado,  

Epitetando-o de sebastiânico,

De semblante marcadamente apaixonado

A invetivar o inverosímil futuro

Com a esperança a consumir-se célere nos fogos-fátuos

De uma vida exasperada; 

Desde aquele dia

Tu permaneceste  

Viçosa

Exultante

Plena de vida

Para mim,

O teu rosto

Deu-me

A luz de uma paixão que vivia congelada dentro de mim!

A tua humanidade tocante

Tornou-se água pura de nascente

Límpida e fresca  

Como a das almas cristalinas;

Até no dia em que celebraste a tua existência

Massacraram-se  

E tiveste que lutar com firmeza e galhardia

Contra os que querem contrariar a tua vontade

Impondo a sua                                                               

Revelada nos teus desejos benignos,

Querem que a estranheza  

Que habita dentro de ti

Permaneça como um cadáver

Errante

E por velar

Sem lhe dar o merecido descanso

Na campa rasa

Do cemitério implantado na colina

Rodeado do silêncio  

Que se respira debaixo das sábias árvores

Que protegem este segredo que é só nosso…

Chegará o dia em que todos celebrarão

O fim de uma vida penada 

Cuja glória se perdeu lá atrás no tempo!  

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