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A ruga
Que,
Todas as madrugadas,
Tão bem interpela
A minha memória
Não nasceu da minha vontade
Mais, escapuliu-se por entre os meus sonhos,
Como pó que vagueia sem se deter
Rumo infindável
Por entre a areia do deserto
Que a quer ocultar
Sem resposta e ausente
Ao que me suscita
Um tão tremendo vento
Que sopra de noroeste
Agita as vagas
Encrespa o mar esquecido
Que já não mora na minha cabeça
Como estrelas que cintilam na noite fria
Mas há muito explodidas…
Deixa-me, pois, só
Com a minha coletânea onírica
Onde perdura a ausência
Transparece a nitidez
Mas onde a vida
Se amortece com reminiscências
Que há muito me atormentam
Sem que eu possa
Escancarar a porta da minha alma
Sem que eu me deixe deslumbrar pela doce noite
Que dura apenas uns instantes
E o esquecimento
Perdura
Perdura
Para além do entendimento!
![franklimcostabraga_20201106_cemiterio_1000x750_02.]()
Certa noite acordei
No vácuo do silêncio
De mais uma noite angustiada
Rodeado de áspera solidão,
Que se assumia gélida e agressiva,
E vislumbrei
Refletido no espelho
Um rosto que me horrorizou!
Certo dia adormeci
Cansado de tanta em noite em branco
E vislumbrei os horrores
Que, desde aquela noite, me acompanhavam
E gizavam nas noites longas e frias
Os temores de um futuro alquebrado
A definhar
Com a mão pousada nessa viola sem cordas
Apodrecida
E mirei o meu olhar clareado
Carregado de esperança
A brilhar na alvura do meu encantamento,
Porém, surgiram as carpideiras
Que apressadamente
Começaram a esconjurar aquele rosto,
Apesar de nunca o terem vislumbrado,
Epitetando-o de sebastiânico,
De semblante marcadamente apaixonado
A invetivar o inverosímil futuro
Com a esperança a consumir-se célere nos fogos-fátuos
De uma vida exasperada;
Desde aquele dia
Tu permaneceste
Viçosa
Exultante
Plena de vida
Para mim,
O teu rosto
Deu-me
A luz de uma paixão que vivia congelada dentro de mim!
A tua humanidade tocante
Tornou-se água pura de nascente
Límpida e fresca
Como a das almas cristalinas;
Até no dia em que celebraste a tua existência
Massacraram-se
E tiveste que lutar com firmeza e galhardia
Contra os que querem contrariar a tua vontade
Impondo a sua
Revelada nos teus desejos benignos,
Querem que a estranheza
Que habita dentro de ti
Permaneça como um cadáver
Errante
E por velar
Sem lhe dar o merecido descanso
Na campa rasa
Do cemitério implantado na colina
Rodeado do silêncio
Que se respira debaixo das sábias árvores
Que protegem este segredo que é só nosso…
Chegará o dia em que todos celebrarão
O fim de uma vida penada
Cuja glória se perdeu lá atrás no tempo!