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O amor que te tenho
Não me demove
Não me esmorece…
Pois,
Ele dá-me força e convicção
Concede-me razão de viver!
Embora a minha voz derrape
Nas inclementes emoções
Intimamente confesso-me:
Tu és a luz insubstituível
Que rasga os céus
Iluminando a noite
Inspirando a suprema paixão
Tão presente numa alma
Que tanto quer afirmar
Mas é incapaz de o dizer!
E quando deixei de te ter
Que fiz eu da minha vida?
A minha vida tornou-se um agreste deserto;
Escorres das tuas mãos
O lento suor esgotado
Iças as extremidades das secas searas
Que se anunciam em cada verão
Revolves as folhas esquálidas nos dias cinzentos de outono
Reacendes os caminhos talhados na rocha
Por onde a água que caí das nuvens
No seu passo acelerado
Se entrega a dar alento,
Enquanto escalo a árvore da vida
Roço, ao de leve, na extensa folhagem
Que todos os anos enrubesce
Os doces troncos que alimentam a vida.
Deslizo, em silêncio, pelo gelo
Distendido ao longo da montanha
Abro as minhas mãos
Até ti
Ressoa em mim o teu nome
Grito-o bem alto
E é então que
Esquivo
Começo a lamber as minhas feridas
Sustendo a culpa
Revigorando a complacência
Aceitando o que a vida me dá em cada momento:
Mas sinto tanto a tua ausência!
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Difícil é lá chegar
Atingir a maturação completa
Esperar que se consolidem
Os sabores açucarados da fruta
Para então sorver todo o seu sumo
Então, regozijas-te com o seu sabor
Que se agarra a ti infinitamente
Chega, pois, o momento
De já não existir saudade
Ausência
Distância
Até a sede de beber os teus fluídos mais frescos
Se desvanece
E ininterruptamente
A tua presença em mim
E a minha em ti
São a carne e o osso
De um opíparo repasto,
E eis que
Numa gutural declaração
Soam palavras
Que enternecem as cotovias
Que entoam
Belíssimas melodias
Que unem o céu e a terra
Despertam a esperança
E trazem fecundidade ao amor
Naquele seu voo tão característico
Que, em crescendo,
Sobe abruptamente
Que, em declínio,
Desce repentinamente.
E a minha sombra
Já não é mais
Apenas a minha sombra
Mas o somatório
Da sombra do meu e do teu corpo!
Felizes os que,
No reino dos apaixonados,
Se aconchegam debaixo do brilho das estrelas resplandecentes
Declarando-se incapazes de viver sozinhos
E, viciados um no outro,
Se entusiasmam
Com as palavras mutuas
Que cada uma das mãos escreve no livro:
“Não te deixarei jamais!”
Esbelta e iluminada senhora
Que já não sabe viver
Sem mim
E eu sem ti:
Espero-te
Na sombra eterna
De uma ramada de kiwis
Aí revelar-te-ei
A minha louca paixão por ti
Por foi aí onde tudo começou!
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Amai-me
Senhor
Amai-me…
Como às sílabas
Que se querem livres
Devotas a nobres sentimentos
Que
De vós
Tão eloquentes
Cultivais
Atravessando o reino
A cavalgar na garupa
Desse vento madrugador
Que chega
Às donzelas
E que tão inebriadas ficam
Que soletram sem igual
Frases
Belas
Sonoras
E inspiradoras
Doadas pelo soberano
De Portugal e do Algarve.
De tanto
De tanto
Me quereis bem
Meu senhor
Não me olvido
Do timbre da vossa voz
Quando recitais
Para mim
Palavras que parecem vir do Céu
E como viçosas tornam as plantas do jardim
Que há em mim
Dessa paixão inigualável
Que tendes por donzelas formosas
E que tão bem me aceitais
Intransigente com a pobreza
Incomodada com a fome
Que grassa no Reino;
Porém,
Vós Senhor
Meu Senhor
Sóis homem de Vistas Largas
E não há em Portugal igual!
Ó Senhor
Ó meu Senhor
Que me trazeis bendita
Numa imensa alegria
Quando
Ao acordar pela manhã
Discirno
Vosso odor impregnado
Que a meu lado se acoita
E que
Ao contemplar-vos
Tanto me inebria
A vossa tez
Trigueira e poderosa
Madura e sapiente
O vosso rosto longo
Cingido por olhos negros
Cruéis
Inesquecíveis
Enleado por espessa barba
Tão viril…
Só vós
Senhor
Me entendeis
Nesta mescla de sangues
Que eu sou:
Aragonesa e siciliana,
Deixai-me exibir para vós
As rosas escondidas que trago no meu vestido
E onde o meu coração sangra
Porque
De vê-las…
De vê-las…
Iluminadas pelos archotes
Suspensos
Das mãos
Das minhas leais aias
Me ajudaram a suster
O pranto
E que
Em vez de lágrimas
Correram pela minha face
Óleos
Com fragâncias de rosas
Que jurei
Em janeiro
Tê-las no meu regaço!