AO SOM DO CHARLIE PARKER
Vão-se os meus dedos
Sonâmbulos
Apaixonados
Longos
Bravios
Competentes
A tatear a tua pele plácida
Lustrosa e pura
Que parece uma sadia nascente
A refletir os raios de sol em dia cintilante;
Bebo pela concha das tuas mãos
A água transparente
Acabada de colher
Da levada desse rio
Sem fim
Onde nadam placidamente
As boas almas
Que pululam livremente
Nessa tua mente abençoada;
Deixo-me levar pela correnteza das águas
Esqueço-me para onde vou
E de donde venho
Quero apenas sentir
Neste sereno momento
Esse manto transparente
Que tão bem te ornamenta
E que não me olvido
De o evocar de cada vez que te vejo
Com esse chapéu tigrado
Pousado na cabeça
Matizado de amarelo e laranja
De olhar fixo no chão
Porque duros e cruéis
Podem ser os olhares
Que há muito te perseguem
Nesse passo elegante
Que tão bem te carateriza
Enlevado
Resplandecente
Exultante;
Esses minúsculos sinais
Pequenos oásis no deserto
Que cobrem teu corpo
São a prova inabalável
Que nutres pelo Amor
Essas subtis manchas
Plantadas nas tuas pernas
Evoca-as tantas vezes
A massajá-las suavemente
E a ouvir tuas exclamações de prazer
Que saem desses teus lábios tão doces
Que parecem néctar puro de lavanda
Quero as tuas mãos
Os teus dedos
Os teus braços
O teu peito
As tuas pernas
E mesmo esse teu corpo sofrido
De mãe
É para mim reconfortante
Vê-lo a medrar perante o meu olhar excitado
E é aí que cavalgo a minha paixão
E é aí que não me atrevo sequer
A pensar
Em deixar-te para atrás
Porque isso seria
Deixar-me para trás
Também!