PAIXÃO
Difícil é lá chegar
Atingir a maturação completa
Esperar que se consolidem
Os sabores açucarados da fruta
Para então sorver todo o seu sumo
Então, regozijas-te com o seu sabor
Que se agarra a ti infinitamente
Chega, pois, o momento
De já não existir saudade
Ausência
Distância
Até a sede de beber os teus fluídos mais frescos
Se desvanece
E ininterruptamente
A tua presença em mim
E a minha em ti
São a carne e o osso
De um opíparo repasto,
E eis que
Numa gutural declaração
Soam palavras
Que enternecem as cotovias
Que entoam
Belíssimas melodias
Que unem o céu e a terra
Despertam a esperança
E trazem fecundidade ao amor
Naquele seu voo tão característico
Que, em crescendo,
Sobe abruptamente
Que, em declínio,
Desce repentinamente.
E a minha sombra
Já não é mais
Apenas a minha sombra
Mas o somatório
Da sombra do meu e do teu corpo!
Felizes os que,
No reino dos apaixonados,
Se aconchegam debaixo do brilho das estrelas resplandecentes
Declarando-se incapazes de viver sozinhos
E, viciados um no outro,
Se entusiasmam
Com as palavras mutuas
Que cada uma das mãos escreve no livro:
“Não te deixarei jamais!”
Esbelta e iluminada senhora
Que já não sabe viver
Sem mim
E eu sem ti:
Espero-te
Na sombra eterna
De uma ramada de kiwis
Aí revelar-te-ei
A minha louca paixão por ti
Por foi aí onde tudo começou!