O GATO PURIFICADOR
Voltarei a ver-te
Ó luz dispersa
Augusta
Que dentro de mim trago desde que nasci?
Pelos telhados do casario
Que vou levedando
Em pequenas oscilações
Levitando,
Envolvo os meus olhos
Numa suave e compreensiva mirada
E deixo-me embevecer
Pelas ruas delicadas e estreitas
Cheias de vida
Carregadas de uma azáfama
De um vai e vem constante,
Acabo nostálgico de um passado
Que já não volta!
De repente,
Como que acordando de um sonho,
De uma das colinas onde todos
Parecem querer seguir
Cada um dos seus desígnios
Dou por mim a rever-me nesse passado longínquo
Que parece fugir das minhas mãos
Como a areia por entre os dedos
Nesse exato local onde
As sílabas com que todos nos ufanamos em declamar
Nos surgem dispensáveis
E parecem já não nos atrapalhar tanto
Pois as memórias que vivem dentro de nós
Surgem como flash
Carregados de luz instantânea
E é nesse momento
Que buscamos uma outra linguagem
Que não se expressa em palavras
Mas que saí sensitiva em imagens
Para estreitar as têmporas;
Até que,
Alargo o meu olhar
E alcanço as divindades
Circundo a minha atenção
E com o credo na boca
Enxugo toda a tristeza do universo
E sinto-me um gato
A expurgar os males do mundo!