POEMA A DUAS MÃOS
Entristece-me vê-lo
Nessa senda culposa
Só porque entende
Que o amor se aprisiona
Capturando a alma
Da sua consorte
Na hora em que se assumem votos
De amor eterno!
Vai-te peçonha
Maldosa
Insipiente
E tão perigosa
Segura de si
Inabalável
Nesse mundo dual
De que eu sou tua
Para sempre!
Fui desejada
E tive a ousadia de desejar
A quem não firmei votos
De amor eterno contigo
E tu
Nessa tua ancestralidade enfadonha
Decretaste:
Pecado capital!
Não entendes
Que tu queres-me
Como sempre quiseste
Para me silenciar
E dar voz a essa tua cobardia
Insonsa
E ele
Em tão poucos instantes de vida
Mostrou-me
Que eu tinha que crescer
E me inspirou
Para deixar de alimentar
A fera que eu própria nutri
Tão roliça e luzidia
Todos estes anos
Silenciando-me;
Tu queres-me
Para mandar em mim
Para me controlares
Nessa tua dissimulação
De boa alma
Tão perturbada e maligna interiormente…
Todos os instantes da minha vida
Humilhaste-me
Com a tua altivez
De controlar
E formular a eito juízos morais
A tua pequenez
Não conhece limites
És tão previsível
Tão modorro
Um inqualificável mandrião
E como foi possível
Na hora em que firmei votos contigo
Que eu não visse
Tamanha parvidade
Numa mesma pessoa
Que tarda em compreender o seu papel atual na minha vida:
Nenhum!
Ó meu amor
Deixa que a paixão flua normalmente
Deixa corar esse manto
Coroado de estupidez
Na relva mais fresca próxima do rio
Para o purificar
Arranca sem hesitações
Foge dessa luminária
Desse inqualificável
Ladrão de almas
Que te enfraquece
Que tudo te roubou
Não queiras que te subtraia mais um quarto de século de vida
Foge dessa afrontosa nuvem negra
Que tapa esse sol
Que te devia tão bem iluminar
Deixa que as ondas desse mar
Limpem a areia dessa praia
Afastem as sujidades mais imundas
Mesmo que seja teu lixo
Que já não o queres
Mas que ele teime
Em recicla-lo
Para to dar em doses cavalares,
Uma suave lembrança
Aflora ao meu corpo
Na hora em que vislumbro
Aquela espaço ajardinado
Repartido
Pelas águas serenas
De um velho riacho
Que divide o espaço
De um lado
O caramanchão dos amantes
A felicidade dos sabem amara
Do outro
A bestialidade de quem não sabe o que é o amor
E se esconde naquele matraquear
Permanente
De que é ridículo…
Mas,
Amor,
Ridículo
Mesmo
É achar que o amor
Não se exibe publicamente
Apenas nas frestas escuras
Das noites de intimidade
Onde até a luz se apaga
Para ser,
Enfim,
Mais casto o amor assim!
Tourear “al alimón” é quando dois matadores lidam em simultâneo o touro com um único capote; há também um célebre discurso proferido a duas mãos, entre Lorca e Pablo Neruda, em homenagem a Ruben Dário, descrito por Pablo Neruda no livro "Confesso que Vivi".