TERRA
No silêncio
Que é ali
Naquele recanto mais lobregue
Onde os deuses alinhavam os seus pensamentos
Vem-me à memória a fraqueza da tua idade
Que se enrola
Como a muleta à espada
No centro da praça de toiros
O matador que se atiça à besta negra
E eis que avisto
Suavemente
A demência que não se esconde já…
Por entre a fúria de um vento forte
Que vem sempre como um último fôlego de final de inverno
Acompanhada por furiosas bátegas que nos atemorizam
Sei sempre que as tuas mãos não se cansam de me afagar
As tuas palavras
Sinetas doteis que me fazem iluminar a esperança
O teu odor que me enche de amargura
Quando não estás presente
Os teus olhos
Que cintilam
Como os fios bordados a oiro
No fato do matador numa tarde solarenga
E eu
Semeando a planície
Colhendo os furtivos pinhões
Por baixo dos pinheiros mansos
Cheirando essa tua terra
E por onde evoco sempre
O dia em que misturar-me-ei na tua essência
E onde o vento
Ao de leve
De mansinho
Soprará o meu corpo moído em pó
Para alcançar as altivas árvores
Que ladeiam o castelo
Que se ergue
Sem vergonha
No meio de um extenso bosque…
Mas um dia também
Chamar-me-ei terra apenas!