POR TERRAS DE BELZEBU
De um lado,
A música celestial e harmoniosa
Que soa das trombetas do órgão;
Do outro,
O silêncio
Cruel e absoluto
Onde o diabo
Uma vez mais
Mostra toda a sua dimensão
Mesmo que,
Desta vez,
O faça no âmago de uma igreja
Contígua a um convento beneditino!
A luz que penetra no interior da nave
Submissa e assustada pela presença Dele
Acaba rendida aos ditames do carrancudo
Ao eterno
Invisível,
Ao inocente
Ao jubiloso
Ao tenaz
Ao copioso
Mas não estagnado
Pela suprema maldade
Vivendo na penumbra do engano
Não assumindo a sua vileza
Não se destapando
Mas avocando permanentemente o embuste
Como forma de vida
Nunca exibindo o seu rosto,
Haverá por aí alguém que já o contemplado?
Vive ardiloso
Pela ilusão que o seu rosto cria
No interior da igreja
Refrega-se na luta
Entre a verdade e a mentira
Versus entre a Ilusão e a realidade;
De um lado,
Emparedado no engano
Na ilusão firme de uma grande mentira
O órgão suportado
Pelas carrancas do belzebu
Que ali parecem ter sido plantadas para criar um simples embuste
Do outro,
Contíguo à luz que penetra pela janela,
O órgão que nos consegue emocionar
Pelos seus lindos acordes
Que nos dão a música que nos eleva até ao paraíso
E que tanta fúria
Tanta cólera exaspera
Este odiado mafarrico
Que aqui se dá à estampa
Com a desfaçatez gravada
Com a maldade tingida
Mergulhado na acidez mortal
Do mar que não esquece nunca
A areia rugosa e movediça onde se deita
Para descansar
Pois,
Ele melhor que ninguém sabe que:
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”!
Imagens esculpidas que se encontram no interior da igreja do mosteiro de São Miguel de Refojos, em Cabeceiras de Basto; "...figuras demoníacas, máscaras, também conhcidas por carrancas, colocadas dos dois lados interiores, logo à seguir à entrada da igreja..." página 7 do livro "Venho conhecer Cabeceiras de Basto com os cinco sentido", edição da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto.