A TUA VOZ
A tua voz
Não me é estranha
Como se alguma vez o pudesse ser?
Ouço-te desde o dia em que abri os olhos
Respirei profundamente
E vi a tua silhueta
Que empubescia no interior da minha memória
Cravada na garupa do cavalo
Montado pela bela amazona de cabelos longos tisnados;
Essa tua voz
Que é a minha também
Leva no regaço os nossos desejos mais ternos:
Um fogo incessante que se ateia glorioso
Água que jorra
No prazer irrepetível de um grito
E lá bem dentro do que mais fundo nos une
Guardamos as sombras interiores
Que, por vezes, tantos nos inquietam
Para que o mundo caminhe depressa;
Um rio que se destapa
E na encruzilhada de uma ilhota
Acaba separando-se em dois longos braços
Afanoso e rebelde
Que, atrevido, deixa fluir
A força das suas águas
Onde cada pequeno leito
Brilha na jactante correnteza
Seguindo a sua marcha
E é quando mais à frente
As águas do mesmo rio se voltam a encontrar e a abraçar
Águas que correm desde o berço
E eu volto a escutar as nossas vozes…
As nossas vozes são romarias
Que bailam no calor de uma noite de verão
As nossas vozes
São a harmonia silenciosa das nuvens
As nossas vozes
As nossas vozes
São o vigor que alimenta o nosso ser
E não se destapam pela sua singularidade
Antes, envolvem os nossos ossos
Recobertos de pequenas falhas
Que vituperam a nossa carne
Na malsã corredura de uns tantos
Que se escapulem sempre
Para uma inenarrável estreiteza de vistas
Para enganar as suas vidas
De mais um pachorrento dia!