TUDO PODE ACONTECER
A pairar extasiado
Percorro por entre as brumas de uma nuvem
Que me segue
Como o destino,
Acabo deleitado
Pelo regaço
Adormeço debaixo do calor
Que me envolve como o de uma mãe
Observo-lhe o rosto
Que sempre me espanta
Aquele olhar arrebatado
Cintilante e provocador
Que me emudece a alma
E me deixa enlevado
A contemplar no infinito
Da tua fronte solta
Que alimenta o meu ardor
Teu cabelo caído sob os teus ombros
Trazendo a esperança
De uma vida
Que nunca mais esquece
A quem alguma vez a contemplou
Tens o vício dos alvores
Que se anunciam todas as manhãs
Sem fim
Inesgotáveis
Tuas pernas
Macias e frescas
São braços de heras no meio da floresta
Transportando a frescura e a ternura
Das suas folhas
Que são palavras como palavras numa frase
Ramos de rosas que não esquecemos
Dos teus lábios soem emergir
Lindas palavras
Que me soam como o de um canto
De um omnipresente cardeal
Com a sua poupa vermelha
Companheiro dos caminhantes
Do Sertão brasileiro
Que abrem fendas na paisagem
E que nunca se olvidam do peito que os enrubesce,
E é então que quero permanecer envolto na neblina
Apreciar o teu formoso passo
Que ilumina as minhas noites de solidão;
Vejo-te
Como uma flor que se agita aos leves toques do vento
Que aqueça aos primeiros raios do sol
Que não se afasta nunca do seu querer
E
Em tudo o que toca
Transforma
O vulgar
O cinzento
O negrume
A palidez mais intolerável
No incomensurável poder do ouro
Pois
Em ti
Tudo é para acontecer
Tudo pode acontecer!