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Artimanhas do Diabo

Artimanhas do Diabo

VINDIMAS

Passo a passo

De palavra em palavra

De murmúrio em murmúrio

De frase em frase

Que acaompanha a música

Que sós os vindimadores o sabem fazer

Acabo concluindo:

Há leituras sublimes

Que, avassaladoras, me preenchem a alma

E calcorreio o bardo oscilante

Obstinado

Multiplicado

De uma extensa sebe

Constituída de videiras

Que circundam a habitação

Onde se depositam

Nas velhas pedras graníticas

Em destaque e no centro do edifício

As antigas e solenes insígnias  

Da Casa dos Morgados

E é ali, naquele espaço livre e odorífico,

Onde se sobrelevam os odores

Da erva espontânea

Das maçãs que começam a espigar

Das uvas predominantes e tão desejadas  

Ou até das aquilinas vespas

Que endoidecem, em rodeios cruzados,

Em busca dos açucares;   

Mas é nas redondezas daquela casa

Que,

No Verão,  

Abunda uma intensa luz solarenga

No Inverno,

Um cinzento quadro que acaba por me tolher os movimentos  

E é naquele cenário tão bucólico  

Onde o vinho verdadeiramente começa a dar os primeiros passos

Engalanado pelas vestes verdes

Nas suas múltiplas formas de coração das suas folhas

Que escondem intermináveis caços de uvas

Que medram em obstinada e difícil terra

Que trata de tudo o que vai medrando das suas entranhas

Carrega essa demencial dose de dificuldade

Como se a vida só fosse possível e poderosa

Se vivida naquele grau de hostil dificuldade…

Mas os arrotos da grande cordilheira Lusitana

Guarnecidos nos cumes com aquela barba esbranquiçada

Mostram-me as cabras que, numa roda vida,

Se movimentam pesadonas

Com os seus úberes dilatados

E que ali vêm todos os anos

Em todas as vindimas

Ajudar o grande enólogo

A pensar o vinho

Dotando-o da complexidade dos seus taninos

Porque aquele badalo constante

Que se ouve serra acima

Mais do que uma pausa no silêncio

É um aviso:

O Queijo, dito da Serra,

Acompanha lindamente

Vai bem

Casa esplendidamente

Com o vinho que se há de produzir

No lagar da Casa dos Morgados!

 

 

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